14/3/2012, Xinhuanet, Pequim
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, em encontro com a imprensa, depois do encerramento da 5ª Sessão do 11º Congresso Nacional do Povo, no Grande Salão do Povo, em Pequim, 14/3/2012 |
O
primeiro-ministro da China Wen Jiabao disse ontem que a China não precisa só de
reformas econômicas, mas também de reformas políticas estruturais, sobretudo de
reformas na estrutura do sistema de comando do Partido Comunista e do
governo.
Wen falou a
jornalistas, depois de concluída a Sessão Anual do Parlamento [1]; disse que podem voltar a acontecer
tragédias histórias como a “Revolução Cultural”, se o país não conseguir
implantar reformar políticas que deem encaminhamento satisfatório a problemas
persistentes na sociedade chinesa.
“As reformas chegaram agora a um
estágio crítico” – disse Wen. “Sem uma reforma política bem-sucedida, a
China não conseguirá implantar toda a reforma econômica, e os ganhos que
obtivemos nessas áreas poderão ser perdidos. Sem reforma política bem-sucedida,
problemas novos que surgiram na sociedade chinesa não poderão ser
satisfatoriamente superados e há riscos de que tragédias históricas como a
“Revolução Cultural” voltem a acontecer na
China”.
Mas observou também que, embora depois de derrubada a
Camarilha dos Quatro,[2]
o Partido tenha
adotado resoluções sobre vários temas históricos e tenha decidido promover
reformas e aberturas, nem todos os erros e o feudalismo da Revolução Cultural
foram plenamente eliminados.
“A reforma tem de
avançar; não pode parar nem retroceder, porque nem a estagnação nem o retrocesso
são vias de fuga possíveis”.
Wen lembrou que,
em várias ocasiões, dedicou-se a lembrar a questão da reforma política
estrutural na China; que em todas as ocasiões expôs o mais claramente possível o
seu pensamento; e que sua preocupação e interesse pelas reformas políticas
brotam de “profundo senso de responsabilidade”.
Com a economia
sempre em desenvolvimento, disse Wen, ocorreram problemas como a desigualdade de
renda, a falta de confiança no governo e a
corrupção.
“Estou plenamente consciente de
que, para resolver esses problemas, temos de seguir adiante com a reforma da
estrutura econômica e com a reforma da estrutura política, sobretudo com
reformas no sistema de comando do Partido e do país” – disse
ele.
O primeiro
ministro disse que, para ele, todos os membros do partido e funcionários do
governo que tenham senso das próprias responsabilidades devem reconhecer
imediatamente que prosseguir nas reformas é “tarefa urgente” para a
China.
“Sei muito bem que não será reforma
fácil e que não acontecerá sem a participação consciente, o apoio, o entusiasmo
e a criatividade do povo chinês” – disse
Wen.
Para conduzir
essas reformas num país gigantesco com população de 1,3 bilhão, observou Wen, as
pessoas têm de assumir com conhecimento as circunstâncias nacionais da China e
de desenvolver a democracia socialista de forma gradual, passo a
passo.
O premiê disse que
sabe que o povo acompanha com interesse não só o que ele diz e suas ideias, mas
não perde de vista, tampouco, os resultados que seus esforços visam a
obter.
“Até meu último alento, continuo
pronto a dedicar-me integralmente a promover as reformas e o processo de
abertura chinês” –
disse.
Wen disse também
que a China implementará sem descanso o sistema de autogoverno dos habitantes do
campo, e protegerá seus direitos legítimos a eleições
diretas.
As práticas já
vigentes em muitas cidades do interior da China já mostraram, segundo Wen, que
os camponeses e agricultores podem fazer escolhas muito acertadas, na eleição de
comitês de moradores das áreas rurais. Para o premiê, se as pessoas conseguem
administrar com sucesso uma cidade, podem administrar uma província e um
país.
“Temos de estimular o povo chinês a
continuar avançando na via da experimentação criativa”, acrescentou. “Creio que a democracia chinesa crescerá
gradualmente, passo a passo, segundo as circunstâncias nacionais, e que essa
será tendência que nada e ninguém conseguirá
deter”.
Na 4ª-feira, o
primeiro-ministro chinês disse também que é importante que a China tenha pleno
controle dos próprios negócios e objetivos, para não se deixar arrastar pelas
forças ativas na crise financeira internacional e na crise do alto endividamento
europeu.
“Ante a atual
crise financeira, que se aprofunda dia a dia, e ante a crise da dívida na
Europa, o mais importante é que a China conduza bem seus próprios
negócios”.
Disse ainda que o
ano de 2012 será muito provavelmente o mais difícil dos últimos tempos; mas que
será também ano carregado de oportunidades.
“O povo conta com que o governo se
mantenha sereno, resoluto e confiável. E o governo conta com a confiança, o
apoio e a ajuda do povo” – disse o premiê.
Essa foi a última
vez em que Wen reuniu-se com a imprensa depois de encerradas as sessões do
Congresso Nacional e Conferência Política Consultiva do Povo.
“Nesse meu último ano de mandato,
não deixarei de cumprir o meu dever de ser fiel às minhas convicções. Sempre
estarei ao lado do povo chinês” – concluiu.
Notas
dos tradutores
[1]
O
Relatório dessa reunião (espécie de “discurso sobre o estado da nação” como
fazem os norte-americanos) pode ser lido na íntegra, em inglês, em: “Full
Text: Report on the Work of the Government”
[2]
Camarilha
dos Quatro [ing. Gang of
four (1966-1976)] Liderada pela 4ª esposa de Mao Tse Tung,
Jiang Qing (1913-1991), a Camarilha dos Quatro foi grupo que chegou a exercer
forte influência sobre os rumos do comunismo chinês nos últimos anos da vida de
Mao Tse Tung. A influência política de Jiang começou na primeira fase da
Revolução Cultural (do Grande Proletariado); adiante, ela aliou-se ao chefe de
propaganda de Xangai Zhang Chunqiao (1913-1991), ao crítico literário Yao
Wenyuan (1931- ) e ao oficial de segurança Wang Hongwen (1935-1992). Durante a
Revolução Cultural, o grupo de Jiang atacou diretamente alguns líderes do
Partido, entre os quais Liu Shaoqi, Deng Xiaoping e Xu Enlai. Liu sofreu expurgo
e morreu na prisão. Deng foi exilado, mas foi reabilitado e, mais tarde, voltou
ao poder. Xu Enlai (1898-1976) enfrentou dificuldades políticas nesse período,
mas reemergiu, passada a guerra de intrigas.
Depois
da morte de Mao, em 1976, travou-se rápida disputa política entre a Camarilha
dos Quatro, de Jiang e Hua Guofeng. Ao final da disputa, os membros da Camarilha
dos Quatro foram presos e politicamente desacreditados. Os quatro foram
responsbilizados pelos levantes e pelos sofrimentos pelos quais a nação passou
durante a Revolução Cultural e foram julgados. Jiang e Zhang foram condenados à
morte, mas as sentenças foram depois convertidas em penas de prisão perpétua.
Yao e Wang receberam longas penas de prisão.
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