sexta-feira, 16 de março de 2012

WEN JIABAO: “A China precisa de reformas políticas, sem as dificuldades de outra Revolução Cultural”


14/3/2012, Xinhuanet, Pequim
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, em encontro com a imprensa,
 depois do encerramento da 5ª Sessão do 11º Congresso Nacional
do Povo, no Grande Salão do Povo, em Pequim, 14/3/2012
O primeiro-ministro da China Wen Jiabao disse ontem que a China não precisa só de reformas econômicas, mas também de reformas políticas estruturais, sobretudo de reformas na estrutura do sistema de comando do Partido Comunista e do governo.

Wen falou a jornalistas, depois de concluída a Sessão Anual do Parlamento [1]; disse que podem voltar a acontecer tragédias histórias como a “Revolução Cultural”, se o país não conseguir implantar reformar políticas que deem encaminhamento satisfatório a problemas persistentes na sociedade chinesa.

“As reformas chegaram agora a um estágio crítico” – disse Wen. “Sem uma reforma política bem-sucedida, a China não conseguirá implantar toda a reforma econômica, e os ganhos que obtivemos nessas áreas poderão ser perdidos. Sem reforma política bem-sucedida, problemas novos que surgiram na sociedade chinesa não poderão ser satisfatoriamente superados e há riscos de que tragédias históricas como a “Revolução Cultural” voltem a acontecer na China”.

Mas observou também que, embora depois de derrubada a Camarilha dos Quatro,[2] o Partido tenha adotado resoluções sobre vários temas históricos e tenha decidido promover reformas e aberturas, nem todos os erros e o feudalismo da Revolução Cultural foram plenamente eliminados.

“A reforma tem de avançar; não pode parar nem retroceder, porque nem a estagnação nem o retrocesso são vias de fuga possíveis”.

Wen lembrou que, em várias ocasiões, dedicou-se a lembrar a questão da reforma política estrutural na China; que em todas as ocasiões expôs o mais claramente possível o seu pensamento; e que sua preocupação e interesse pelas reformas políticas brotam de “profundo senso de responsabilidade”.

Com a economia sempre em desenvolvimento, disse Wen, ocorreram problemas como a desigualdade de renda, a falta de confiança no governo e a corrupção.

“Estou plenamente consciente de que, para resolver esses problemas, temos de seguir adiante com a reforma da estrutura econômica e com a reforma da estrutura política, sobretudo com reformas no sistema de comando do Partido e do país” – disse ele.

O primeiro ministro disse que, para ele, todos os membros do partido e funcionários do governo que tenham senso das próprias responsabilidades devem reconhecer imediatamente que prosseguir nas reformas é “tarefa urgente” para a China.

“Sei muito bem que não será reforma fácil e que não acontecerá sem a participação consciente, o apoio, o entusiasmo e a criatividade do povo chinês” – disse Wen.

Para conduzir essas reformas num país gigantesco com população de 1,3 bilhão, observou Wen, as pessoas têm de assumir com conhecimento as circunstâncias nacionais da China e de desenvolver a democracia socialista de forma gradual, passo a passo.

O premiê disse que sabe que o povo acompanha com interesse não só o que ele diz e suas ideias, mas não perde de vista, tampouco, os resultados que seus esforços visam a obter.

“Até meu último alento, continuo pronto a dedicar-me integralmente a promover as reformas e o processo de abertura chinês” – disse.

Wen disse também que a China implementará sem descanso o sistema de autogoverno dos habitantes do campo, e protegerá seus direitos legítimos a eleições diretas.

As práticas já vigentes em muitas cidades do interior da China já mostraram, segundo Wen, que os camponeses e agricultores podem fazer escolhas muito acertadas, na eleição de comitês de moradores das áreas rurais. Para o premiê, se as pessoas conseguem administrar com sucesso uma cidade, podem administrar uma província e um país.

“Temos de estimular o povo chinês a continuar avançando na via da experimentação criativa”, acrescentou. “Creio que a democracia chinesa crescerá gradualmente, passo a passo, segundo as circunstâncias nacionais, e que essa será tendência que nada e ninguém conseguirá deter”.

Na 4ª-feira, o primeiro-ministro chinês disse também que é importante que a China tenha pleno controle dos próprios negócios e objetivos, para não se deixar arrastar pelas forças ativas na crise financeira internacional e na crise do alto endividamento europeu.

“Ante a atual crise financeira, que se aprofunda dia a dia, e ante a crise da dívida na Europa, o mais importante é que a China conduza bem seus próprios negócios”. 

Disse ainda que o ano de 2012 será muito provavelmente o mais difícil dos últimos tempos; mas que será também ano carregado de oportunidades.

“O povo conta com que o governo se mantenha sereno, resoluto e confiável. E o governo conta com a confiança, o apoio e a ajuda do povo” – disse o premiê.

Essa foi a última vez em que Wen reuniu-se com a imprensa depois de encerradas as sessões do Congresso Nacional e Conferência Política Consultiva do Povo.

“Nesse meu último ano de mandato, não deixarei de cumprir o meu dever de ser fiel às minhas convicções. Sempre estarei ao lado do povo chinês” – concluiu.

 


 

Notas dos tradutores


[1] O Relatório dessa reunião (espécie de “discurso sobre o estado da nação” como fazem os norte-americanos) pode ser lido na íntegra, em inglês, em: “Full Text: Report on the Work of the Government

[2] Camarilha dos Quatro [ing. Gang of four (1966-1976)] Liderada pela 4ª esposa de Mao Tse Tung, Jiang Qing (1913-1991), a Camarilha dos Quatro foi grupo que chegou a exercer forte influência sobre os rumos do comunismo chinês nos últimos anos da vida de Mao Tse Tung. A influência política de Jiang começou na primeira fase da Revolução Cultural (do Grande Proletariado); adiante, ela aliou-se ao chefe de propaganda de Xangai Zhang Chunqiao (1913-1991), ao crítico literário Yao Wenyuan (1931- ) e ao oficial de segurança Wang Hongwen (1935-1992). Durante a Revolução Cultural, o grupo de Jiang atacou diretamente alguns líderes do Partido, entre os quais Liu Shaoqi, Deng Xiaoping e Xu Enlai. Liu sofreu expurgo e morreu na prisão. Deng foi exilado, mas foi reabilitado e, mais tarde, voltou ao poder. Xu Enlai (1898-1976) enfrentou dificuldades políticas nesse período, mas reemergiu, passada a guerra de intrigas.
Depois da morte de Mao, em 1976, travou-se rápida disputa política entre a Camarilha dos Quatro, de Jiang e Hua Guofeng. Ao final da disputa, os membros da Camarilha dos Quatro foram presos e politicamente desacreditados. Os quatro foram responsbilizados pelos levantes e pelos sofrimentos pelos quais a nação passou durante a Revolução Cultural e foram julgados. Jiang e Zhang foram condenados à morte, mas as sentenças foram depois convertidas em penas de prisão perpétua. Yao e Wang receberam longas penas de prisão. 

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