Ou:
“Quem tem medo de Bo Xilai?”
17/3/2012, *MK
Bhadrakumar, Indian
Punchline
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Bo Xilai |
Não sou “olheiro” da China, mas como indiano que vive
inquieto com o andamento das políticas neoliberais, o anúncio de que Pequim
destituiu Bo Xilai [1]
da
presidência do Partido Comunista Chinês em Chongqing é provocação difícil de
resistir.
Para
um partido comunista, destituir um membro do Politburo não é pouca coisa. Havia
insistentes rumores de que Bo seria promovido ao Comitê dirigente, de nove
membros, do Politburo chinês, a mais alta esfera de poder nesse país gigantesco
de quase 1,5 bilhão de habitantes.
Os
“olheiros” da China mergulharão em infinitas especulações. Assim sendo,
permitam-me oferecer uma lufada de ar um pouco mais respirável.
Em minha opinião, Bo perdeu, antes de tudo, pela ameaça
que seu chamado “modelo Chongqing”
[2]
representava
contra o passado dogmático da China maoísta, ao afirmar as vantagens de uma
economia regulada pelo Estado, com sociedade igualitária.
Recentemente,
Bo disse que:
Mao Tse Tung |
“Como dizia o Grande Timoneiro Mao, quando estava
construindo a nação, o objetivo de construirmos uma sociedade socialista é
garantir que todos tenham emprego para trabalhar e comida para comer, e que
todos juntos sejamos ricos. Se só alguns são ricos, começamos a cair no
capitalismo e fracassamos. Se se cria uma nova classe capitalista, fica provado
que, de fato, tomamos a estrada errada”. [3]
Vamos e venhamos... É blasfêmia total! Mais ainda na
China de Xi Jinping. O Partido respondeu com aquelas declarações espantosas,
depois do Congresso Nacional do Povo, quando “vovô” Wen Jiabao,
primeiro-ministro em final de mandato, alertou que a China conheceria “tragédia”
semelhante à Revolução Cultural
[4],
se desistisse do caminho das reformas e da abertura, que tão bem serve aos
interesses do povo. Nessa frase, Wen tinha em mente as declarações de Bo. E
assim, nos bizantinos corredores do poder, Bo perdeu a vez e o assento.
Quem
tem medo de Bo?
O
carisma jovem e fulgurante de Bo, e a atração que o “modelo Chongqing” exerce
sobre muitos, indicam que Bo poderia estar encontrando eco entre amplas
correntes de opinião que há na economia chinesa, que se mantêm céticas sobre as
tais “reformas” e alguns aspectos das políticas atuais (como o festivo mergulho
no mercado, ou a crescente desigualdade de renda que já se constata). Sua
campanha, de estilo norte-americano, o gingado e o à vontade com que fala e se
move tê-lo-iam tornado enervante, não só aos olhos do Partido Comunista Chinês –
mas aos olhos de qualquer partido comunista, de qualquer
canto.
Notas
dos tradutores
[1] Sobre ele, ver: “Bo
Xilai appears on Asia 's most influential people
list” (em inglês).
[2] “O chamado “modelo Chongqing” enfatiza o investimento controlado pelo Estado, com zonas de desenvolvimento, redes de transporte organizadas e efetivas e incentivos aos negócios. Empresas como Hewlett-Packard Co. (HPQ), Ford Motor Co. (F) e Coca-Cola Co. (KO) mantêm operações em Chongquig. O crescimento econômico dessa província, no centro da China, foi de 16,4% em 2011 e de 17,1% em2010”
(15/3/2012, Bloomberg, em: “Ousted
Bo’s ‘Chongqing Model’ Outpaced Peers: Chart of the
Day”.
[2] “O chamado “modelo Chongqing” enfatiza o investimento controlado pelo Estado, com zonas de desenvolvimento, redes de transporte organizadas e efetivas e incentivos aos negócios. Empresas como Hewlett-Packard Co. (HPQ), Ford Motor Co. (F) e Coca-Cola Co. (KO) mantêm operações em Chongquig. O crescimento econômico dessa província, no centro da China, foi de 16,4% em 2011 e de 17,1% em
[3] 14/3/2012, Xinhuanet, em:
“Wen
says China needs political reform, warns
of another Cultural Revolution if without”.
[4]
Sobre a fala de Wen Jiabao, ver em, 14/3/2012, redecastorphoto: WEN JIABAO: “A
China precisa de reformas políticas, sem as dificuldades de outra Revolução
Cultural”.
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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