9/3/2012, Farirai
Chubvu, The Herald Online,
Zimbábue
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
De
“Leitor comenta”, na mesma página
Musa
- Friday, March 9, 2012 at 04:01 AM:
“Basta mandar a OTAN, agora, bombardear o Conselho Nacional de Transição”.
Quando a
OTAN assassinou a sangue frio o líder líbio Muammar Gaddafi, observadores
previram que a morte de Gaddafi não marcaria o final da guerra, mas, de fato, a
escalada [1]. A
Líbia estava no olho do furacão. Agora, os ventos voltaram a soprar. A retomada
de Ben Walid por gaddafistas e a recente declaração de autonomia por líderes de
milícias tribais armadas no leste da Líbia (onde está o petróleo) são só as
primeiras escaramuças da guerra que virá.
O
chefe do Conselho Nacional de Transição instalado na Líbia pela OTAN e com base
em Trípoli ameaça usar “a força” para impedir a divisão do país, mas suas
palavras cairão em ouvidos surdos, pela suficiente razão de que o Conselho
Nacional de Transição não tem poder para fazer o que diz: não passa de um
fantoche do ocidente.
De
fato, vários membros do Conselho Nacional de Transição estão sitiados em Trípoli
e não podem sequer movimentar-se livremente pela Líbia. Alguns pernoitam em
Malta, do outro lado do Mediterrâneo, por medo de
represálias.
Quase
cinco meses depois do assassinato-linchamento de Muammar Gaddafi e de a OTAN ter
declarado vitoriosa sua guerra para mudança de regime na Líbia, o confronto
entre Trípoli e Benghazi, cidade do leste, onde foi tomada a decisão de dividir
o país, já faz ressurgir o monstro de uma guerra civil.
Em
comunicado pela televisão, na 4ª-feira, da cidade de Misrata, Mustafa Abdel
Jalil, presidente do Conselho Nacional de Transição rejeitou categoricamente a
divisão do país.
“Não
estamos preparados para dividir a Líbia”, disse ele. “Os divisionistas deveriam
saber que há interesses infiltrados entre eles, além de remanescentes do regime
de Gaddafi, que agora tentam manipulá-los. Estamos prontos a impedir que
alcancem seu objetivo, inclusive pela força”.
Em
conferência de imprensa em Trípoli, Jalil acusou “países árabes” (que não
identificou) de estarem financiando “a sedição” na Líbia. “Algumas nações árabes
irmãs estão infelizmente apoiando e financiando essa sedição que está
acontecendo no leste” – disse ele. Jalil, que foi ministro da Justiça do governo
de Gaddafi, declarou, mais uma vez, que o Conselho Nacional de Transição seria
“o único representante legítimo do povo líbio”; e, Trípoli, “a eterna capital”
líbia.
Mais
cedo o primeiro-ministro interino do Conselho Nacional de Transição, Abdel Rahim
al-Kib, também rejeitara qualquer iniciativa na direção de criar-se um estado
federado na Líbia. “Não queremos regredir 50 anos”, disse ele. Referiu-se assim,
sem dar nomes, ao regime reacionário e corrupto do rei Idris, que governou a
Líbia até ser destronado pelo Movimento dos Oficiais Livres, de inspiração
nasserista, liderado por Gaddafi.
O
rei Idris sempre serviu como fantoche do imperialismo norte-americano e
britânico, assegurando àqueles governos o direito de manter bases militares na
Líbia, inclusive a gigantesca base Wheelus, da Força Aérea dos EUA, na Líbia
ocidental.
Depois
da descoberta de petróleo no país, Idris serviu como complacente braço armado
das grandes empresas norte-americanas de petróleo, que redigiram as leis líbias
sobre petróleo e asseguraram para elas mesmas direitos irrestritos de
exploração. Ao assumir o poder, Gaddafi fechou as bases militares de
Grã-Bretanha e EUA e impôs rígido controle sobre todas as empresas estrangeiras
que exploravam o petróleo no país.
A
conexão entre o projeto do rei Idris e o movimento separatista é hoje muito
direta e muito fácil de ver. O rei deposto por Gaddafi governava uma monarquia
federada, absolutamente dominada pelas potências imperialistas e pelas empresas
que exploravam o petróleo.
Os
três estados – a Cirenaica, no leste; a Tripolitânia, no oeste; e Fezzan, no
sul, eram jurisdições territoriais herdadas do governo italiano fascista e,
antes dele, do Império Otomano – tinham tanto poder quanto o governo central. O
próprio rei Idris vivia em Benghazi e considerava-se, antes de tudo, rei da
Cirenaica.
O
Xeique Ahmed Zubair al-Senussi emergiu da conferência em Benghazi, como escolha
dos 3.000 representantes de tribos, milícias e grupamentos políticos ali
reunidos, como chefe de um novo Conselho Provisório da Cirenaica, em árabe, Barqa. O objetivo já declarado do
novo conselho é reviver a constituição de 1951 imposta pelo rei Idris.
Al-Senussi,
que é membro do Conselho Nacional de Transição, é também sobrinho-neto do
deposto rei Idris. Tem repetido que a declaração de autonomia da Cirenaica não é
movimento de “sedição” e que o conselho de Benghazi não tem qualquer interesse
em trocar nem a bandeira nem o hino nacionais, e que deixará as questões de
política exterior a cargo do Conselho Nacional de Transição, em
Trípoli.
Mas,
em entrevista à CNN, falando de Benghazi, al-Senussi disse que “questões
sociais” devem ser assunto dos governos locais, inclusive saúde e educação. Sob
o governo de Gaddafi, parte significativa dos lucros do petróleo era canalizada
para garantir saúde e educação públicas, completamente gratuitas, a todos os
líbios. A ideia de entregar esses setores a governos regionais é ameaça clara e
direta à sobrevivência da maioria da população, mas pesa mais sobre os líbios
que dependem dos programas públicos no leste da Líbia, onde está organizado o
movimento separatista.
Segundo
a Companhia Árabe de Petróleo do Golfo [Arabian Gulf Oil Company (AGCO)],
que tem sede em Benghazi, ¾ das reservas de petróleo da Líbia estão em
território da Cirenaica. Perguntado pela Agência Reuters sobre se a criação do
novo Conselho de Benghazi alterara o modo como a AGCO opera ali, um porta-voz da empresa
respondeu: “Até agora, nada mudou”. A declaração de autonomia de Benghazi está
sendo vista por muitos na região como mais um passo na direção de concentrar
nessa região todo o controle sobre o petróleo líbio – o que significa o fim de
qualquer projeto de distribuição nacional da riqueza gerada pelo
petróleo.
O
movimento para criar um governo autônomo com base em Benghazi é parte do projeto
mais amplo para fraturar o território da Líbia de Gaddafi ao longo de linhas
regionais de divisão. Mais de 100 diferentes milícias tribais e milícias
instaladas na cidade – as forças que a OTAN apoiou com armamento, instrutores e
bombardeios aéreos no ataque para derrubar Gaddafi – controlam hoje grandes
áreas do país.
O
Conselho Nacional de Transição, apesar de instalado na Líbia por EUA e OTAN como
governo oficial, já se comprovou incapaz de controlar sequer a capital, Trípoli,
cujo principal aeroporto continua até hoje controlado por
milícias.
Nota
dos tradutores
[1]
Ver, por exemplo, 9/10/2011, “Resistência
e guerra sem fim, na Líbia”, Pepe Escobar, entrevista a Russia Today(traduzida).
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