[Frente
de Esquerda], França 2012, candidato Jean-Luc
Mélenchon.
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Vale
a pena ver, porque é campanha eleitoral sem “pesquisa” e sem marketação mais visíveis que o discurso
político. Também é campanha eleitoral em que o candidato manda mais que o marketeiro. E também é campanha em que o
protagonista (real, não inventado, ficcionalizado) é a multidão.
O
Brasil não vê nada parecido com isso há muito tempo, ocupados que estamos pelo
besteirol do “marketing político”, movido a pesquisas “de preferências” que recebemos prontas dos EUA, quando não,
também, dos cursos de “comunicações” e publicidade sempre e só, “comunicações” e
publicidade comerciais.
Interessante, também, ver candidato que cuida de demarcar um campo e um discurso, antes de apresentar projeto de governo. E Mélenchon não está facilitando para Hollande. Em Lille, em resposta irônica a Hollande (que disse “We are not dangerous”, sempre preocupado em não espantar os votos liberais e ‘moderados’), Melenchon disse: “Nós somos comunistas. We are dangerous!”
Primeira parte
Interessante, também, ver candidato que cuida de demarcar um campo e um discurso, antes de apresentar projeto de governo. E Mélenchon não está facilitando para Hollande. Em Lille, em resposta irônica a Hollande (que disse “We are not dangerous”, sempre preocupado em não espantar os votos liberais e ‘moderados’), Melenchon disse: “Nós somos comunistas. We are dangerous!”
Primeira parte
Na
reunião, o candidato Jean-Luc Melenchon diz:
“Agora,
chego à 6ª. República. Quero a Bastilha. Dia 18 de março, temos uma nova
atividade de campanha. É a manifestação pela 6ª. República. É a primeira vez que
se faz isso em campanha eleitoral, em manifestação de rua, sobre um ponto forte
do programa. Portanto, a partir daí, a Front de Gauche passará a ser
identificada a uma nova república. Tudo que fizermos dia 18 de março tem de ser
espetacular, sempre a relação de forças, a demonstração de força. E com a nossa
estética. Muitas bandeiras vermelhas. Um pouco mais de bandeiras vermelhas, por
favor. Um dia inteiro, a Comuna de Paris, a nova república, tan-tan, tan-tan,
quer dizer, grandioso”.
No
ônibus, o senhor cantarola:
“Há 100 anos, Comuna comum,
como operário e artesão, que lutavam pela colina.
Escutem bem o canto de Clement...”
É a chanson “La Commune”, de Jean Ferrat, 1971 (letra em La Commune) e cantada a seguir:
No
final, já na Place de la Nation, o candidato diz:
“E por onde andávamos, há tanto tempo? Sentíamos falta uns dos outros. Esperávamos, uns pelos outros. Agora, nos encontramos.” [1]
Segunda
parte
O candidato, em cena do filme anterior:
“Um
dia inteiro, a Comuna de Paris, a nova república, tan-tan, tan-tan, quer dizer:
grandioso”.·
18/3,
dia da manifestação na Place de la Nation
Manuel
Bompart
Responsável
pela mobilização militante: “Começa
às 14h. Ainda é 1h.
Falta
ainda uma hora.”
A
moça no palanque: “Precisamos
de sete pessoas, para carregar um cartaz montado. De preferência, três altos e
três médios.
Manuel
Bompart: “A
praça está cheia. A manifestação já começou. Acho que vamos ultrapassar minhas
previsões. Não sei dizer os números ainda, mas...”
Ouve-se
a canção “On Lache Rien” [Não “afrouxamos” ], cantada por “HK et les
Saltimbanks”, que diz:
Não nascemos num palácio
Não
tínhamos mesada do papai
Sem-documentos,
desempregados, operários
camponeses,
imigrados,
sempre
quiseram nos dividir
e
até que conseguiram...
Desde
que fosse cada um por si,
o
sistema deles prosperava.
Mas
teríamos de acordar um dia,
e
as cabeças começaram a rolar.
Caem
os direitos humanos, ante a venda de um Airbus
No
fundo, a regra é uma só:
vender-se
mais, pra vender mais.
A
República prostitui-se na calçada dos ditadores
Não
acreditamos mais em belos discursos
Os
governantes são mentirosos”.
O candidato [saudado, ele ri. Há quanto tempo o Brasil não ouve uma boa, sincera, feliz risada de candidato em campanha?! Aliás... quem ri em spots de publicidade? Quando não são rostos sisudos, veem-se sempre e só ‘sorrisos’ (e sempre de dentes de um milhão de dólares [risos, risos]), mas ouvir risada, aberta, solta, isso, não se ouve nem se vê em campanha eleitoral no Brasil. Por quê?!]:
Fala
o candidato: “E por onde andávamos, há tanto tempo? Sentíamos falta uns dos
outros. Esperávamos, uns pelos outros. Agora, nos encontramos.
Gênio
da Bastilha [olha para o Anjo, no topo da “Colonne de Juillet” [2]] ,
que paira sobre essa praça, cá estamos de volta, o povo das rebeliões e das
revoluções na França! Somos as bandeiras vermelhas, e o vermelho das bandeiras
está em nossa mão aberta, oferecida para a solidariedade, que ganha força,
quando se fecha, para comunicar energia.
Somos
o grito do povo, dos operários e operárias precarizados, desprezados,
humilhados, abandonados. Somos o grito do povo, da mulher que põe o filho no
mundo num campo de prisioneiros. Somos o grito do povo, da criança que não tem
teto nem professor, quando vai à escola. Somos o grito do povo, de todos os que
chegam, prontos a nos trazer o socorro de sua inteligência, de sua criatividade,
e que, às vezes, mesmo vivendo em boas condições, recusam-se a aplicar a moral
do egoísmo, que diz “Aproveita tu mesmo!”
Organizem-se!
[3]
Para repetir o 18 de março na Bastilha. Reúnam-se aos milhares! Viva a
humanidade universal! Viva a França! Viva a República!”
(gritos
de “Resistência!” “Resistência!” “Resistência!”)
Próximo
episódio: [fala o candidato] “Para
nós, o plano é o planejamento ecológico. E é, porque ideologicamente estamos
convencidos. Porque consideramos o nosso dever de sermos humanos, responsáveis
políticos, consequentes.”
Nesse endereço, às 2as-feiras, informe-se sobre atualizações da campanha.
Nesse endereço, às 2as-feiras, informe-se sobre atualizações da campanha.
Notas dos tradutores
[1]
Ele repetirá esse bordão, também no discurso de Lille e na Ilha de la Réunion
[NTs].
[2]
A Coluna de
Julho é monumento instalado na Praça da Bastilha, Paris, em
homenagem aos “Três Dias Gloriosos”, as três jornadas da revolução de julho de
1830 que derrubaram Carlos V e a monarquia absoluta e instauraram a monarquia
constitucional, com Luiz Felipe (“Monarquia de Julho”). Numa placa, ao pé da
Coluna, lê-se: “À glória dos cidadãos franceses que se armaram e combateram na
defesa das liberdades públicas, nas jornadas memoráveis de 27, 28 e 29 de julho
de 1830.” No topo da coluna, há uma escultura de bronze dourado, “O Gênio da
Liberdade”.
[3]
E m Lille, dia 27/3, o candidato repetirá esse “Organizem-se!”: “Organizem-se!
Cabe a nós! A nós! Tomem a iniciativa! Sempre preferimos corrigir eventuais
erros da ação, a nos condenar aos erros da inação.” Sobre o discurso de Lille,
há boa
matéria no Libération .
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.