"Arapongagem" generalizada (nos EUA, por
enquanto!)
19/3/2012, Karen J. Greenberg, TomDispatch
Ever More and Ever Less: "The Unstoppable Legacy of the War on Terror"
Ever More and Ever Less: "The Unstoppable Legacy of the War on Terror"
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Karen Greenberg é diretora do Centro de Estudos de
Segurança Nacional, da Faculdade de Direito de Fordham, EUA.
Agora,
seria de supor que estivéssemos chegando ao fim da era 11/9. Uma guerra mal
acabada no Oriente Médio Expandido, outra que se arrasta desastrosamente rumo ao
fim, e a al-Qaeda tão reduzida que nem moveria a agulha do medidor
norte-americano de ameaças. Seria de supor, sim, que chegara o momento de os
norte-americanos voltarem os olhos, afinal, para seus próprios princípios: a
Constituição e a proteção que só ela assegura a direitos e deveres.
Mas o que
se vê são abundantes sinais de que 2012 será mais um ano no qual, em nome da
segurança nacional, aqueles direitos e liberdades serão ainda mais capados e
Guantanamizados. Exemplo disso é que, apesar de ainda haver inimigos poderosos
pelo mundo, os EUA só temos olhos agora para ‘candidatos’ da oposição que
denunciam ‘vazadores’, acusados de pouco menos que crimes de alta traição,
porque revelaram a jornalistas e cidadãos interessados o que faz e como age o
governo dos EUA.
Aqui e por
todos os cantos, tudo sugere que só possamos esperar que o governo Obama
continue a pavimentar o caminho que já nos levou tão longe do país que nos
acostumáramos a ser. E ano que vem, se houver outro presidente na Casa Branca,
só esperem que nos leve para ainda mais longe.
Com isso em
mente, eis aqui cinco categorias na esfera da segurança nacional, nas quais,
provavelmente, 2012 será ainda mais tenebroso que 2011.
1. Cada vez
mais punições (e menos equilíbrio)
Os que
suponham que a era de reações desmedidas em nome da segurança nacional estaria
chegando a algum fim próximo, melhor farão se lembrarem dos espetaculosos
julgamentos em tribunais de segurança nacional que estão no horizonte – e de que
podemos estar-nos aproximando de uma nova era de vingancismo governamental.
Dentre os mais espetaculosos: as comissões militares em Guantánamo, que julgarão
Khalid Sheikh Mohammed, suposto ‘cérebro’ do ataque de 11/9 e seus
co-conspiradores; além de Abd al-Rahim al-Nashiri, suposto ‘cérebro’ dos ataques
suicidas de 2000, contra o porta-aviões U.S.S. Cole no porto de Aden. Aí haverá
acusações de crimes que preveem execução, a serem julgados em espírito de
desforra.
Esse
espírito de desforra não se saciará com linchar chefetes e operadores da
al-Qaeda. Vários casos que não envolvem nem ataque a nem morte de
norte-americanos também chegarão aos tribunais em nome da segurança nacional e,
em todos, reinará o mesmo espírito de desforra. Para começar, está em pauta a
corte marcial do cabo Bradley Manning, acusado de copiar documentos secretos do
governo dos EUA e entregá-los a WikiLeaks. E, claro, há também o possível
julgamento de Julian Assange, fundador de WikiLeaks, por uma corte federal – uma
corte federal analisa atualmente se acolhe a denúncia contra ele – por suposta
colaboração com Manning.
Os dois
casos tem sido apresentados em tom de ira viciosa que, aos olhos de outros povos
deve soar como um murro na boca. Altos funcionários insistem em que os materiais
publicados por WikiLeaks ameaçaram vidas de norte-americanos, o que teria
"manchado de sangue" as mãos de ambos, Assange e Manning (embora até hoje
ninguém tenha apresentado prova de que um único ser humano foi fisicamente
agredido em consequência da publicação daqueles documentos).
No polo
mais sanguinolento do espectro político nos EUA, o ex-governador do Arkansas e
aspirante a candidato presidencial, Mike Huckabee, e o deputado Mike Rogers
(R-MI), dentre outros, já clamaram pela execução de Manning. Nas palavras de
Rogers, "insisto em que se considere a pena capital nesse caso, dado que
[Manning] claramente colaborou com o inimigo, no que pode resultar em morte de
soldados dos EUA e aliados. Se isso não é crime capital, não sei o que é".
Bradley Manning |
Desejo
semelhante, embora talvez menos assassino, oculta-se na determinação com que o
governo Obama persegue e pune qualquer tipo de vazamento de informações, do
interior do governo para a imprensa, mesmo quando não envolve roubo de
documentos oficiais. Obama, como se sabe, entrou na Casa Branca proclamando uma
política "Raio de Sol", em matéria de transparência nos serviços públicos e
governamentais. Hoje, já ultrapassou George W. Bush nas tentativas de punir
‘vazadores’.
Dois
julgamentos em andamento, de dois ex-agentes da CIA, exemplificam esse padrão.
Jeffrey Sterling foi acusado de vazar documentos secretos para James Risen do
New York Times sobre planos para dar informações falsas ao Irã, num esforço
contraproducente para subverter o programa nuclear iraniano; e John Kiriakou
acaba de declarar-se inocente da acusação de ter entregado à mídia informações
sobre práticas de tortura na era Bush. Tudo somado, o governo dos EUA está
caçando seis supostos ‘vazadores’ – mais do que todos os casos desse tipo, em
todas os governos dos EUA – servindo-se para isso da lei "Antiespionagem",
Espionage Act, draconiana.
No que
tenha a ver com ‘vazadores’, a mensagem não poderia ser mais clara, nem mais
vingancista. O estado, nos EUA, mantém-se na seguinte posição: exponha o Estado,
e cairemos sobre você com fúria inimaginável. Assim como os terroristas foram
avisados de que se criariam novas leis e sistemas legais específicos para eles,
assim também os acusados de vazar informações (mesmo que verídicas!) para a
mídia estão sendo avisados de nem toda a lei vigente limitará o castigo que
desabará sobre eles.
Basta
considerar o tratamento dado a Bradley Manning no primeiro ano de prisão, quando
ainda sequer estava acusado de qualquer crime: foi mantido numa masmorra da
Marinha, em total isolamento, obrigado a dormir nu. Ou considere-se a tentativa,
não de fazer justiça, mas de destruir a vida de Thomas Drake, ex-funcionário da
Agência Nacional de Segurança. Drake foi acusado de vazar informação sigilosa de
caso que, para Drake, não passava de programa no qual havia desperdício
devastador de recursos da Agência. No fim, embora acusado nos termos da Lei
Antiespionagem, Drake declarou-se culpado da contravenção de ter tomado
emprestado um computador do Estado – mas, isso, depois de sua vida ter sido
destruída, sua carreira arruinada e já demitido.
2. Um limbo
‘legal-ilegal’ cada vez mais sombrio (e cada vez menos consideração à
Constituição)
Hoje,
denúncias da ilegalidade da detenção indefinida dos acusados de "combater pelo
inimigo", já denominados "inimigos beligerantes sem privilégios", já viraram
normais. É tema considerado tão tipicamente norte-americano quanto a torta de
maçã. Como, antes, o governo Bush, o governo Obama insiste na necessidade de
manter presos em Guantánamo cerca de 50 homens, contra os quais não há qualquer
acusação formal.
Em maio de
2009, em discurso nos National Archives, o presidente Obama não poderia ter sido
mais claro: a detenção indefinida, disse ele, continua a ser utensílio para uso
do aparelho da segurança nacional, também em seu governo. Assim, garantiu que
uma versão norte-americana da (in)justiça além fronteiras, e traço essencial de
Guantánamo – que, em campanha, Obama prometera fechar – continuaria
intocada.
Mas em
2012, está surgindo outra categoria de gente que também pode ser presa sem
acusação e por tempo indefinido: cidadãos norte-americanos. Antes, os
norte-americanos estavam isentos do risco de serem encarcerados em Guantánamo e,
portanto, da política de prender sem julgamento, sem sentença e sem, sequer,
acusação. Em 2002, descobriu-se que Yaser Hamdi, cidadão
norte-americano-saudita, estava também preso em Guantánamo Bay; foi
imediatamente removido, de avião, na calada da noite, e encarcerado noutro
lugar, sinal de que o Estado, nos EUA, ainda reconhece direitos aos cidadãos
norte-americanos. E o mesmo aconteceu ao "Talibã norte-americano", John Walker
Lindh, preso no Afeganistão, no campo de batalha, e encarcerado no sistema
prisional oficial dos EUA.
John Walker Lindh |
Depois
disso, contudo, o Congresso mostrou bem menos respeito à diferença entre
direitos garantidos aos cidadãos e aos não cidadãos norte-americanos. Mês
passado, o Congresso aprovou a Lei de Defesa Nacional 2012 (2012 National
Defense Authorization Act, NDAA). Os debates parlamentares refletiram empenho
ativo em converter cidadãos norte-americanos, assim como cidadãos não
norte-americanos, em alvos de detenção militar por tempo ilimitado.
No fim dos
debates, concluiu-se que os cidadãos continuariam supostamente protegidos contra
o ataque da nova lei, mas, foi sinal bem claro da direção na qual podemos estar
caminhando. Como recente relatório do Serviço de Pesquisas do Congresso
explicou, sobre a lei NDAA: a lei "não visa a afetar poderes relacionados à
detenção de cidadãos ou residentes estrangeiros ilegais, nem qualquer pessoa
capturada ou presa nos EUA".
Ainda
assim, restam muitos justificados temores e grande confusão sobre que proteções
ainda existem aos direitos dos cidadãos norte-americanos, depois da aprovação da
lei NDAA. Nem a declaração assinada pelo presidente Obama, garantindo que o
presidente "não autorizaria a detenção militar indefinida sem julgamento e
sentença de cidadãos norte-americanos" ajudou a aplacar aqueles temores ou a
diminuir a confusão. Se os cidadãos norte-americanos continuavam a gozar de
proteção legal contra detenção indefinida, depois de aprovada a nova lei... que
necessidade haveria de o presidente divulgar aquela declaração
assinada?
Há ainda
outro campo em que a lei parece mergulhada no mais sombrio limbo, sem nada que
dê proteção aos cidadãos: em águas internacionais. No início desse ano, o
governo Obama anunciou que mantinha sob detenção 15 piratas capturados na costa
da Somália – e que não havia qualquer fundamento legal para aquela decisão. Nas
palavras de C.J. Chivers do New York Times: "onde a lei acaba começa um problema
sem solução: o que fazer com piratas capturados por barcos
estrangeiros?".
Segundo o
Departamento de Estado, os piratas serão julgados. Mas onde? Nas palavras do
vice-almirante Mark I. Fox, "Falta-nos uma cobertura prática e legal confiável."
Em outras palavras, os EUA ainda não encontraram país sob cujas leis possam
levar os piratas a julgamento legal. Enquanto procuram, segundo relatórios
recentes, a Marinha dos EUA mantém os detidos em celas em navios. Quer dizer: em
termos conceituais, é uma Guantánamo flutuante, para inimigos da rede ‘para fins
lucrativos’.
3. Cada vez
mais sigilo (e menos transparência)
"Sigilo
necessário" é a sempre repetida explicação para a informação mantida longe do
escrutínio dos eleitores desde 11/9. As comissões militares em Guantánamo
prosseguem, por exemplo, em parte sob a alegação de que, se os acusados, muitos
dos quais já detidos há uma década, forem julgados por corte federal, surgirão
revelações que, de algum modo, comprometerão a segurança nacional.
Para
responder às declarações dos grupos de defesa de direitos civis, segundo os
quais o sigilo serve exclusivamente para tentar esconder comportamento desviante
ou criminoso das autoridades, o governo Obama prometeu "transparência" na
atuação das comissões militares agendadas para começar a julgar os acusados no
final de 2012. Entre os esforços de transparência anunciados no outono passado,
havia uma página na internet, na qual documentos – cobertos de tarjas negras –
ficariam acessíveis ao público; e outros documentos, com delay de 40 segundos,
em circuito para leitura controlada, para a mídia e para as famílias das
vítimas.
Spencer Ackerman |
Mas durou
pouco. Imediatamente o governo suspendeu os anseios de transparência, porque,
nas palavras polidas de Spencer Ackerman, do blog "Danger Room", da revista
Wired, Guantánamo "não é lugar para aberturas". Toda a correspondência entre os
detidos e seus advogados (militares) de defesa é examinada e censurada, prática
que, compreensivelmente, tem provocado a indignação (até) dos advogados
militares.
Na
categoria transparência-zero e crescente obscuridade como princípio básico do
governo Obama, há também a elaborada dança de ocultamento de um memorando
produzido pelo Gabinete de Assessoramento Legal (Office of Legal Counsel, OLC)
do Departamento de Justiça. Foi evidentemente redigido para justificar o
assassinato, em que os assassinos usaram como arma um avião-robô, drone, no
Iêmen, em setembro passado, de um cidadão norte-americano, Anwar al-Awlaki, que
seria "o bin Laden da Internet" [1].
Até
recentemente, o governo evita perguntas sobre o assassinato de al-Awlaki, e de
outro cidadão norte-americano, Samir Khan, editor da revista Inspire, da
al-Qaeda. Em janeiro, o governo anunciou que o Advogado Geral Eric Holder
divulgaria o memorando do Office of Legal Counsel (OLC), que legalizava o
assassinato, mas adiou a divulgação da explicação da Advocacia Geral dos EUA até
o início de março. Enquanto isso, o New York Times e a American Civil Liberties
Union (ACLU) requereram oficialmente a divulgação do documento, amparados na Lei
da Liberdade de Informação (Freedom of Information Act, FOIA). Dia 5/3/2012,
Holder finalmente divulgou explicação detalhada do tortuoso argumento que
justificaria o assassinado pré-determinado [orig. targeted killing] de
al-Awlaki, mas, até hoje, nem sinal do documento oficial o OLC que o
legalizaria.
Durante o
ano passado, a imposição de cerrado sigilo a todos os tipos de atividades do
governo só se tornou cada vez mais acentuada (...), sempre em nome da "segurança
nacional".
Passada uma
década, os americanos sabemos cada vez menos sobre os atos do governo que
elegemos. (...) Não fossem as reclamações oficiais permitidas pela Lei de
Liberdade de Informação, impetradas pela ACLU e outras organizações, bem pouco
do pouco que se sabe sobre tortura, vigilância ilegal e outras práticas ilegais
do governo Obama teria vindo à tona. E o número sempre crescente de processos
contra ‘vazadores’ é apenas mais um modo de tornar invisíveis as ações do
estado, ocultado do olhar dos cidadãos.
4. Cada vez
mais suspeitas (e menos privacidade)
Durante
anos, a perspectiva de gravações ilegais, feitas ilegalmente, em nome da
segurança nacional, vem aterrorizando os americanos que fazem oposição às
políticas do estado norte-americano na guerra ao terror. Em 2008, o presidente
Bush assinou nova lei da Civil Aviation Safety Authority (agência de segurança
da aviação civil), FISA, que autoriza o estado a escanear corpo e bagagem de
cidadãos nos aeroportos, com praticamente nenhuma fiscalização assegurada, pelo
menos, por outra instância legal também carregada de sigilos, as Cortes de
Vigilância da Inteligência Estrangeira (Foreign Intelligence Surveillance
Courts, instaladas em 1978 para legalizar a vigilância sobre suspeitos de
espionar a serviço de outros países.) O governo Obama jamais abriu mão do poder
de gravar comunicações eletrônicas entre pessoas fora dos EUA e pessoas em
território norte-americano, em nome da segurança nacional.
As mais
recentes revelações, de casos de cada vez menos privacidade e mais suspeitas,
têm a ver com programas que teriam sido implementados pelo Departamento de
Polícia Municipal de New York (New York City Police Department, NYPD), para
vigiar cidadãos norte-americanos de religião muçulmana que vivem na cidade. A
NYPD infiltra agentes em mesquitas e universidade, recolhe informes sobre
cidadãos sobre os quais não há nenhum tipo de denúncia ou suspeita, em
associação com a CIA, que treina policiais em métodos e técnicas que
tradicionalmente são recursos exclusivos daquela agência.
Há aí
flagrante violação da lei que rege a CIA, autorizada a fazer a vigilância de
suspeitos exclusivamente em países estrangeiros; e não se vê qualquer sinal de
que algum agente da CIA corra risco de ser processado. Não bastasse, a própria
polícia de New York tem investigado e vigiado cidadãos norte-americanos, de
religião muçulmana, bem longe dos limites de sua jurisdição – de New Haven,
Connecticut, a Newark, New Jersey.
Para
piorar, o governo Obama acaba de aprovar o uso de aviões-robôs, drones, como
parte do arsenal de armas para recolher informação nos EUA. Dia 14/2, o
presidente Obama sancionou lei que autoriza o uso dos drones em vários espaços,
de atividades comerciais a investigação de crimes civis.
A mensagem
é bem clara: esse ano (e o seguinte e o seguinte e o seguinte) serão anos de
arapongagem generalizada. Para os agentes da lei, ao que parece, a vida privada
dos cidadãos deve ser um livro aberto.
5. Cada vez
mais matança (e menos paz)
Não passa
um dia, sem notícias de que drones Predator e Reaper mataram gente em países
estrangeiros – nos anos recentes, predominantemente no Afeganistão, Paquistão,
Iraque, Iêmen, Somália, Líbia e Filipinas. É como se a CIA e os militares
tivessem posto as mãos num brinquedo novo, que não se cansam de usar, ou de
propagandear. Segundo Atlantic, "Estimativas tímidas sugerem que centenas de
civis não combatentes foram motos, só no Paquistão".
E seguem os
tambores de guerra, clamando por ataque militar ao Irã. Ante a possibilidade de
ataque israelense à República Islâmica do Irã, o governo Obama continua a
recusar-se a rejeitar com clareza a possibilidade de ser parte de mais essa
guerra.
"Os líderes iranianos devem
sabem que não tenho qualquer política de contenção" – disse o presidente Obama.
"Tenho uma política para impedir o Irã de obter uma arma nuclear. E já deixei
claro várias vezes, ao longo do meu governo, que não hesitarei em usar a força
quando necessária para defender os EUA e seus interesses" [2].
De fato, a
urgente necessidade de impedir um confronto potencialmente desastroso, que
afetaria gravemente o preço do petróleo e a economia global, já pôs a cúpula dos
militares e altos funcionários do governo a voar, de um lado para outro, entre
Israel e os EUA, com alertas contra qualquer ataque ao Irã. Apesar disso,
diplomatas e outros especialistas continuam a discutir a questão como se a
guerra já fosse evento decidido.
O futuro é
certamente sombrio, todos andando claramente na mesma direção – usar a lei, ou,
pelo menos, o que o Departamento de Estado supõe que seja a lei nos EUA, para
justificar qualquer tipo de ação que o governo Obama considere necessária,
contra quem quer que o governo decida que seja o inimigo. O Advogado Geral
Holder resumiu claramente a situação, na defesa que apresentou do assassinato de
al-Awlaki.
Holder
explicou, com detalhes significativos, que o assassinato de um cidadão
norte-americano (e suspeito de ser terrorista) seria legal, embora obrigasse a
discutir o próprio sentido do que seja "o devido processo legal" nos termos da
5ª Emenda, e apesar da proteção que a lei da guerra assegura também aos
inimigos. "Devido processo legal", disse ele, "não significa processo judicial".
Espantosa teoria essa, de algo absolutamente inexistente na lei! Agora, "devido
processo legal" é o que o presidente e seu círculo mais íntimo decidam que é!
Recriação do direito constitucional, para justificar o assassinato premeditado
("targeted killing") de um cidadão norte-americano.
Em resumo,
a zona nebulosa em que Washington, ao longo de uma década, lançou a lei
norte-americana – e todas as consequências que daí advêm, inclusive medidas
punitivas, tentativas de burlar garantias constitucionais, o sigilo que tudo
encobre e acoberta, a desconfiança cada vez maior, que torna suspeitos todos
nós, e o assassinato – não são coisas que veremos desaparecer tão cedo. É bem
claro o movimento pelo qual estamos nos afastando cada vez mais dos direitos e
liberdades que temos, enquanto a Constituição for respeitada, e que os
norte-americanos estamos perdendo rapidamente, nessa nova era em que
mergulhamos, uma era de inimigos.
Notas dos tradutores
[1] Sobre o caso, ver 7/11/2010,
Ocidente
em pânico: uma voz norte-americana pró-"Jihad",
Patrick Cockburn, The Independent, UK, em português ; e "Assassinato
de Awlaki: Obama mata quem bem entenda", 1/10/2011, Robert Dreyfuss, The
Nation, em português.
[2] O discurso (ao AIPAC, dia 4/3/2012, pode ser lido em:
"Obama's
Speech at AIPAC, March 2012". Sobre o discurso, ver "
‘Bibi’
continua a sacudir o cachorro americano? ", 4/3/2012, Pepe Escobar
Boa tarde. Gostaria apenas de resaltar um equivoco na tradução do texto. O tradutor refereu-se ao U.S.S Cole como Porta-Aviões (NavioAerodromos), porem o mesmo e um Destroyer (http://www.cole.navy.mil/) ou (www.navy.mil) podem verificar a classe exata do navio (USS COLE (DDG 67). Obrigado
ResponderExcluirPrezado Brunno
ResponderExcluirA redecastorphoto e, tenho certeza, o pessoal da Vila Vudu também, agradecem a correção.
Grande abraço
Castor