6/3/2012, *MK
Bhadrakumar,
Indian Punchline Blog
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
[De
comentário acrescentado ao Blog]
“Os
abutres ocidentais já começaram a questionar a legalidade da eleição de Putin,
tentando criar a máxima agitação interna que consigam, na Rússia. A máquina de
propaganda anti-Putin virá, avassaladora, usando “especialistas”, ONGs,
embaixadores, qualquer um e todos”.
(Sobre
as razões disso tudo, leia:
Vladimir Putin |
Muito estranhamente, na onda de críticas do ocidente
contra a legalidade e a legitimidade da eleição presidencial na Rússia, nenhuma
autoridade atreveu-se a exigir a anulação das eleições. Só se fala sobre
“irregularidades” [1]
,
sem que ninguém ponha em dúvida o resultado da eleição propriamente dito. Em
resumo, embora a parte de cozinha esteja feita e os pratos já estejam à mesa, o
cozido tem de ser deixado em fogo brando, para apurar.
De fato, 10 Downing Street teve gesto
extraordinariamente importante, ao apoiar a vitória eleitoral de Vladimir Putin
como “um resultado decisivo”.
[2]
O primeiro-ministro britânico, logo depois, telefonou para Putin. Cameron disse
que esperava trabalhar com o novo presidente russo “para superar os obstáculos
que persistem nas relações GB-Rússia (que passam por momento de frio intenso) e
construir “laços políticos e comerciais mais profundos”. [3]
O
gesto dos britânicos afastou Londres dramaticamente dos protestos de rua em
Moscou. Cameron
com certeza tentou descobrir, com a máxima antecedência possível, o que andaria
pela cabeça de Putin. (E depois, trocaria ideias com
Barack
Obama. Ver em: “Britain
will work to mend Russia ties with Putin: David Cameron”).
Especificamente, Cameron discutiu a questão síria (e o mesmo fez a chanceler alemã Angela Merkel que também telefonou para Putin). A imprensa ocidental especula abertamente [4] que agora, já livre da retórica de campanha, Putin poderia ser mais facilmente seduzido pela fúria ocidental a favor da “mudança de regime” em Damasco. Talvez funcionasse com outro. Não funcionará com Putin.
As
próximas semanas serão cruciais para definir o tempo da presidência de Putin. Embora o presidente
Dmitry Medvedev permaneça formalmente no cargo ainda por três meses, já se verá
o
imprimatur de Putin em cada um e em todos os movimentos
do Kremlin.
O
ocidente não dará trégua ao Kremlin, na questão dos protestos populares. O
ocidente fareja que a autoridade e o poder de Putin estejam enfraquecidos, pelo
menos em certa medida. Paradoxalmente, a eleição mostrou que Putin continua
extraordinariamente popular, embora tenha deixado claro que ele não conseguirá
governar a Rússia como antes.
O
desafio, para Putin, é conseguir criar algum equilíbrio estável, no contexto das
incansáveis tentativas do ocidente para quebrar a unidade nacional. É muito
provável que os protestos de rua convertam-se em problema diário, o que poderá
empurrar o Kremlin, em futuro mais ou menos próximo, para os cornos de um grande
dilema: ou passa a conviver com a turbulência social, ou traça limites claros
intransponíveis.
Entretecido
nesse quadro, está um teste para a capacidade de Putin: conseguir fazer avançar
a reforma política, contra interesses de uma oposição muito profundamente
plantada dentro do sistema. Contexto de turbulência política, além da agitação
social, não é exatamente o melhor quadro no qual fazer avançar o ambicioso plano
político de Putin, para regenerar a economia russa.
Por outro lado, a estagnação da economia alimenta a
apatia e o ressentimento sociais, os quais, por sua vez, alimentam o
desentendimento político. Bom será se os preços do petróleo permanecerem
altos [5],
porque haverá como dar vida a investimentos sociais e gastos com finalidade
social.
Em resumo, o xis da disputa geoestratégica que se
entrevê entre a Rússia e o ocidente está assumindo hoje ares de
discordância [6]
sobre
o que sejam a prática e o exercício da democracia. (Muitos dos russos que
protestam sinceramente ainda não se deram conta disso.) Mas Putin já enfrentou
tempos muito mais difíceis – por exemplo, quando Boris Yeltsin reinava absoluto
sobre tudo.
Se
Putin firmar-se no poder em Moscou, será bom para as relações Índia-Rússia.
Motivo pelo qual me surpreendeu não ter visto o nome do primeiro-ministro da
Índia entre os estadistas do planeta que felicitaram
Putin.
_________________________
Observações
dos tradutores:
Foi
difícil encontrar as notícias, mas encontramos e, devidamente reeditadas para
convertê-las em jornalismo decente, excluindo delas o fedor udenista dos textos
da Agência Estado, sabe-se que:
Dilma Roussef |
(1) A presidente Dilma Rousseff, por
telefone, parabenizou Putin pela vitória nas eleições no último domingo, quando
foi eleito com 63,81% dos votos; no mesmo telefonema, convidou o presidente
eleito da Rússia, Vladimir Putin, para comparecer à conferência Rio+20, que
ocorrerá no Rio de Janeiro entre os dias 20 e 22 de junho. Putin não pôde
garantir a presença, mas convidou Dilma para visitar a Rússia, convite aceito
pela presidente. [6/3/2012, da Agência Estado, em: “O
Diário de Maringá: Dilma parabeniza Putin e o convida para a
Rio+20” .
A
matéria acima que teve de ser reeditada porque, a acreditar na Agência Estado, a
notícia importante aí não seria nem a eleição de Putin nem o telefonema da
presidenta Dilma, mas uns “protestos contra a legitimidade da eleição”.
Exatamente como o embaixador Bhadrakumar anota e comenta acima, “estranhamente”
a Agência Estado também não exige que se anulem as eleições na Rússia.
Ufa!
Que alívio!
(2)
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também parabenizou Putin pela
eleição.
Em carta, enviada do hospital onde convalesce, o ex-presidente Lula diz que:
Luiz Inácio Lula da Silva |
“Fico
feliz ao ver que terá continuidade seu trabalho em conjunto com o atual
presidente Dmitri Medvedev, com quem também tive ótimas relações. Essa união de
forças é salutar para o equilíbrio na equação da política mundial. Uma Rússia
forte e soberana é de significativa importância para o mundo multipolar e
multilateral que emerge no limiar do século XXI”.
Lula
também diz a Putin também que:
“...
sob sua liderança, a Rússia continuará a trilhar o caminho de sucessos que vem
alcançando nos planos interno e internacional” e que “a sólida parceria com o
Brasil será aprofundada, intensificando o denso diálogo político que logramos
consolidar nos últimos anos”.
(Diário
de Maringá)
Matéria
também da Agência Estado e que TAMBÉM TEVE DE SER REESCRITA, pra evitar-se o
risco de nós “noticiarmos” aqui, repetindo as sandices da Agência Estado, que
repete sandices de agências norte-americanas, segundo as quais o ex-presidente
Lula teria cometido um incompreensível e tresloucado gesto de cumprimentar um
russo eleito presidente, que NÃO ERA o candidato preferido da Agência Estado nem
dos EUA, da Hilária, dos Mesquitas, dos Frias, dos Civitas, etc. etc. etc.
[risos, risos, risos]
A
Agência Estado é RIDÍCULA e são ridículos também tooooo dos os jornalistas e
jornais que copiam-colam, como se fossem notícias, o besteirol da Agência
Estado.
Notas
dos tradutores
[1] 5/3/2012, Boston News, “US notes fraud charges in Russian vote”
[2]5/3/2012,
The Independent, “Vladimir
Putin victory “a decisive result” says No 10”
[3]5/3/2012, The Independent, “Vladimir
Putin victory “a decisive result” says No 10”
[4]5/3/2012, Washington Post,
“Germany
hopes for Russian rethink on Syria after election, but Moscow appears
unmoved”
[5] 5/3/2012, Financial Times, em: “Oil
prices: the key to Putin’s future”
[6] 4/3/2012, Financial Times, em: “The reawakening of
Russian politics”
*MK Bhadrakumar foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre
temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu,
Asia
Online e Indian Punchline.
É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista,
tradutor e militante de Kerala.
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