23/3/2012, Derek Henry Flood,
Asia Times Online
Traduzido pelo
pessoal da Vila Vudu
Derek Henry
Flood é jornalista
independente, especializado em questões do Oriente Médio, Sul e Centro da Ásia.
Desde 11/9, cobre no front, os conflitos nessas regiões. Seu blog (“A guerra é o
único modo que se conhece de ensinar geografia aos norte-americanos”) é:
The War Diaries e twitter @DerekHenryFlood
“O honrado Muammar
Al-Gaddafi sempre pensou a África unida. Viva Gaddafi!”
(abm_ww3,
comentário de internauta, na página de ATol, 23/3/2012)
“É
negro! É africano!” – disse um exultante miliciano armado, na Líbia, ao jornal
Asia Times Online, ao descrever um suposto cidadão do Chade, de um grupo
de combatentes pró-Gaddafi capturados depois da vitória dos “rebeldes”, logo
depois da primeira batalha de Brega, dia 2/2/2011.
Brega,
onde há grande terminal de embarque de petróleo, a oeste de Benghazi, foi
importante, não só por ter sido a primeira vitória militar bem clara dos
“rebeldes”, que avançavam na direção leste, rumo a Benghazi, mas, também, porque
foi onde os “rebeldes” começaram a distribuir declarações aos jornalistas sobre
o papel dos africanos subsaarianos naquela guerra; declarações que, vez ou
outra, aproximavam-se da histeria.
Por
mais que o conflito líbio em 2011 possa ser considerado semelhante às revoluções
na Tunísia, Egito, Bahrain e em outros pontos do mundo árabe, como mais um front de uma sempre crescente “Primavera
Árabe”, logo ficou bem claro que a Líbia – pela realidade geográfica e pela
história política – jamais foi conflito só árabe: sempre foi conflito também
africano.
O
muito que se disse sobre o papel de africanos subsaarianos na guerra líbia
pareceu mais propaganda que fato, em vários pontos, porque praticamente sempre
era impossível verificar, de fonte independente e fidedigna, a veracidade das
declarações dos “rebeldes”. Sem dúvida, sempre houve muitos negros africanos no
teatro líbio, mas a maioria deles eram trabalhadores migrantes encorajados a
buscar trabalho na Líbia, pelas políticas de Gaddafi, políticas que sempre
proclamaram a “irmandade” entre os líbios e os vizinhos do sul; ou eram atraídos
para a Líbia simplesmente pela relativamente grande riqueza da Líbia, derivada
do petróleo e de laços econômicos que Gaddafi sempre cuidou de renovar com um
ocidente sempre oportunista.
Empresas
e governos ocidentais, seguidos pelos autocratas russos e chineses, não se
cansavam de procurar negócios com a Líbia de Gaddafi pós-sanções. A imagem de
Gaddafi foi então habilmente reabilitada, até convertê-lo em alguma espécie de
liberal secular – depois de a desastrada invasão do Iraque ter criado o
“Cachorro Louco do Oriente Médio”, pelo prisma de uma visão de mundo ferozmente
neoconservadora que então dominava os negócios
internacionais.
Houve
também os que simplesmente esperavam atravessar a Líbia a caminho das costas
italianas e da então aparentemente riquíssima União Europeia, do outro lado do
Mediterrâneo. Dado o longo alcance da artilharia e dos atiradores hiper
treinados de Gaddafi, raramente os jornalistas conseguiram aproximar-se
suficientemente do exército líbio, para conhecer-lhe a composição étnica. Com
isso, noticiaram-se em todo o mundo, como verdade, as conjecturas dos
“rebeldes”, além de grande quantidade de mentiras, todas da mesma fonte, sobre
quantos, no exército de Gaddafi, seriam “mercenários” africanos
negros.
Em
meio a esse caos generalizado, africanos negros inocentes foram presos,
torturados, muitos foram mortos, depois de facilmente estigmatizados como
“mercenários” que estariam a serviço de Gaddafi. Tornaram-se alvos do ódio dos
“rebeldes”, de ataques xenófobos e racistas, e de cega ignorância sobre quem
fosse “o outro”. Também foram vítimas de uma supersimplificação da dimensão
étnica, no conflito líbio.
Asia Times Online viu muitos oficiais, soldados e
comandantes, negros originários das regiões subsaarianas, lutando e, em vários
casos, comandando ataques, contra o exército de Gaddafi, alistados ao lado dos
“rebeldes” do Conselho Nacional de Transição da Líbia (CNT) [orig. The
National Transitional Council of Libya (NTC)], nos combates por Brega, Ras
Lanuf e na região de Jebel Nafusa. O CNT criou uma campanha de propaganda
esquizofrênica, em que sua luta era apresentada como “superior às diferenças
raciais” – por mais que se visse que a campanha, de fato, só fazia difundir
critérios pesadamente racistas, sempre que denunciava que “o inimigo” explorava
soldados africanos negros.
Nos
conflitos que dilaceram esse início do século 21, nenhuma guerra se trava no
vácuo. Armas, materiais e homens circulam através de fronteiras sempre porosas,
cenários sempre precários de “mudança de regime” impostos de fora e, por todo o
mundo em desenvolvimento, rolam cabeças de ditadores. Virtualmente todos os
atores, estatais e não estatais, trocam farpas sobre os respectivos oponentes
servirem-se dos chamados “combatentes estrangeiros”, sempre com o objetivo de
apresentarem-se, cada um e todos, como vítimas de “mercenários”; e, ao mesmo
tempo, para esvaziarem objetivos supostamente locais ou nacionais dos
respectivos inimigos, em cada guerra.
O
coronel Gaddafi sempre manteve cidadãos de outras nacionalidades alistados e
incorporados ao exército líbio. Mas o papel desses africanos no exército líbio
está longe de ser conhecido (e ainda mais longe de ser entendido) no ocidente.
Gaddafi sempre se manteve integrado e atento a vários conflitos em todo o
continente africano. Com isso, tornou-se interlocutor indispensável na
conciliação de diferenças por todo o continente. Até ser arrancado, ferido, de
uma entrada de esgoto, nos arredores de Sirte, para ser sumariamente assassinado
por “rebeldes” do CNT, jubilosos, dia 20/10/2011.
Gaddafi
sempre soube posicionar-se habilmente como conciliador de conflitos em muitas
regiões instáveis na África, muitas vezes armando grupos e, em todos os casos,
armado de sua retórica incendiária sobre uma revolução permanente no Terceiro
Mundo.
Hoje, cinco meses depois de uma
guerra sanguinária para derrubar Gaddafi, golpes comandados pela OTAN e pelo
Conselho de Cooperação do Golfo já ameaçam destruir ou, pelo menos, cindir,
também a frágil e vacilante República do Mali [1], cujo presidente foi derrubado,
ao que tudo leva a crer, por golpe militar, na capital, Bamako, ontem, 5ª-feira,
pela manhã [2].
Quando
a nave de Gaddafi já dava sinais de naufrágio iminente, combatentes de etnia
tuaregue, cidadãos do Mali e da Nigéria, começaram a retornar aos seus
respectivos territórios no Saara, já então armados até os dentes com armas que
receberam ou saquearam, na Líbia. O estado do Mali, que, de 1992 até o início
dessa semana, era governado pelo presidente Amadou Toumani Toure, enfrenta hoje
ameaça de segurança praticamente insuperável, brotada no norte (ao qual o
governo praticamente não chega), de ataque vindo pela fronteira, do sul da
Argélia, em golpe reivindicado por grupo insurgente autodenominado Movimento
Nacional para a Libertação do Azawad, MNLA).
Imagens
já distribuídas mostram o MNLA em estradas que cortam o norte saariano do Mali,
em veículos idênticos aos do exército líbio, marca Toyota Hi-Lux blindados, e
armados com armas de origem soviética. O MNLA luta para dividir a República do
Mali e criar nova nação, Azawad; o grupo já atacou cidades e acampamentos
militares ao longo das fronteiras com o Niger, a Argélia e a Mauritânia, criando
milhares de refugiados e de desertores (soldados do Mali que buscam refúgio na
Argélia).
A
crise atual começou dia 17 de janeiro, quando o MNLA atacou a cidade de Menaka,
no leste do Mali. Efeito da guerra do ocidente contra a Líbia, o conflito
naquela região do Mali tem potencial para desestabilizar vastas regiões do Saara
e do Sahel, além do caos que já está criado no Mali. Pode-se dizer, em termos
gerais, que aí rola o sangue invisível da “Primavera Árabe”, que já escorre para
o centro da África. E Gaddafi, egocêntrico, intratável, instável que fosse, já
não é encontrável, para mediar essas disputas africanas mortais, como sempre
fez.
Amadou Toumani Touré.
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Como
reação à impotência do presidente Toure, em seus últimos dias no governo, um
grupo de militares rebelou-se, liderados por um capitão do exército, Amadou
Sango, e autodenominado Comitê Nacional para a Restauração da Democracia e do
Estado (CNRDRE) [fr. Comité National pour la Restauration de la Democratie et
la
Restauration de l'Etat,]. O CNRDRE anunciou que suspendeu a
vigência da Constituição do Mali e diz ter prendido vários ministros do governo
em Bamako, numa das ações revolucionárias iniciais.
Nada
disso augura bom futuro para o Niger, vizinho do Mali e da Líbia, que padeceu
seu próprio golpe em 2010 e enfrentou rebelião dos tuaregues no norte, entre
2007-2009. Com Gaddafi, podia-se pensar em conciliação. Sem
Gaddafi , esses estados fragilizados terão de recorrer a corpos
supranacionais, como a União Africana e a Comunidade Econômica dos Estados da
África Ocidental [ing. Economic Community Of West African States
(ECOWAS)], para tentar acertar seu contencioso.
No
Niger, foi preso um conhecido líder tuaregue rebelde, Aghali Alambo, que liderou
rebelião armada contra o governo central em Niamey, de 2007-2009. Alambo foi um
dos principais comandantes do Movimento dos Nigerianos pela Justiça (MNJ) [fr.
Mouvement des Nigériens pour la Justice ], que muito trabalho deu
ao consórcio Areva, liderado por empresas francesas, que explora minas de urânio
no Niger.
Os
tuaregues, os tubus e outros grupos minoritários de pastores tradicionalmente
nômades que circulam pelo norte montanhoso do Niger dizem não saber de nenhum
benefício que lhes tenha chegado, ou às suas comunidades ou criações, nem mesmo
depois que o preço do urânio alcançou cotação altíssima nos mercados
internacionais.
Depois
que Gaddafi interveio nos confrontos dos tuaregues no Niger, Alambo foi exilado
para Trípoli, bastante convenientemente, porque se sabe que se tornou confidente
e consultor militar de Gaddafi. A polícia nigeriana não tem dúvidas de que
Alambo coordenou o contrabando de quantidade substancial de explosivos, da Líbia
para o Niger, pouco antes de ser preso.
Gaddafi,
embora nunca tenha estimulado (e sempre reprimiu) as aspirações de independência
da minoria amazight na Líbia
(conhecidos como berberes), sempre apoiou as lutas de libertação de minorias,
por toda a África. Por isso, os tuaregues do Niger preservam a lealdade que os
aproximava do falecido líder líbio – lealdade que se manifesta hoje no dilema
sobre o destino de Saadi Gaddafi e de três altos comandantes militares líbios
que se refugiaram no Niger depois da queda de Trípoli, no final de agosto
passado. Oficialmente, Niamey diz que não extraditará Saadi para uma Líbia
governada pelo CNT, sobretudo depois do tratamento sacrílego e desrespeitoso que
milicianos do CNT deram ao cadáver de Gaddafi.
O
Niger, um dos países mais pobres do mundo em números absolutos, incapaz de
prover alimento sequer aos seus cidadãos, converteu-se assim em campeão da
defesa de direitos humanos para prisioneiros de guerra. Mas, sob a superfície, o
Niger também enfrenta graves problemas de instabilidade e insegurança.
O
Niger não se pode arriscar a quebrar o acordo tácito de paz que Gaddafi negociou
com os tuaregues e outros grupos de oposição ao regime, e que permanece vigente
desde 2009. O país não quer incitar os tuaregues a novas rebeliões. Mas esse é
risco bem real, caso o affair Saadi Gaddafi não seja adequadamente
encaminhado pelas vias que os tuaregues exigem. Além disso, também os militares
do Niger estão muito justamente indignados pelo modo como as milícias armadas do
CNT têm tratado cidadãos do Niger; e não lhes agradam nem a onda de emigrados
obrigados a voltar ao país de origem nem a evidência de que muitos funcionários
do regime Gaddafi continuam como prisioneiros do sistema ‘judiciário’,
clandestino e ilegal, do Conselho Nacional de Transição Líbio.
Vários
estados independentes na África Ocidental nos quais vivem tuaregues já há muito
tempo enfrentam o problema da rebelião desses grupos nômades. Muammar Gaddafi
sempre foi exímio na arte de fazer render a seu favor as históricas
reivindicações dos tuaregues, ao mesmo tempo em que também acumulava trunfos
positivos, como pacificador, entre os líderes da África negra, sempre que
conseguia conter, por acordos, as insurreições dos tuaregues.
Agora,
o presidente Toure do Mali (que declarou que se mantém no poder, com um grupo de
soldados leais; e o qual, de um modo ou de outro, será substituído nas próximas
eleições presidenciais que devem começar no final do mês de abril) – e o
co-presidente do Niger no governo do presidente Mahamadou Issoufou, hoje na
oposição – terão de tratar com os líderes insurgentes, agora sem a mediação de
Gaddafi.
Para
complicar ainda mais todas essas questões, há o espectro do grupo Al-Qaeda in
the Islamic Maghreb (AQIM [Al-Qaeda no Maghreb Islâmico]). O grupo
AQIM é descrito dos mais diferentes modos; para alguns, seria uma
franquia norte-africana da al-Qaeda; para outros, uma elaborada cobertura para
grupo criminoso transnacional que opera com sequestros e resgates e tráfico
massivo de drogas; para ainda outros, dentre os quais jornalistas e acadêmicos
de mentalidade mais conspiratória, seria operação de fachada, sob a qual se
ocultaria o Departement du Renseignement et de la Securité , DRS (que coordena os
serviços secretos argelinos).
No
conflito no Mali, os dois lados têm lançado as acusações mais furiosas e mais
sem fundamento, uns contra os outros, em tudo quanto tenha a ver com o papel da
AQIM na Região.
O
MNLA declarou que parte da causa de lutarem para criar o estado de
Azawad, como estado independente, é livrarem-se, o mais possível, da
AQIM. Simultaneamente, Bamako “declara” que o MNLA está associado à
AQIM, para impor um ramo violento de islamismo no norte do Mali.
A
agenda do MNLA não deve ser confundida com o que diz um grupo de fundamento mais
religioso e menor, chamado Ancar Dine ou Ancar Din (“Defensores do
Islã”/”Defensores da religião”, em árabe), grupo islâmico comandado por Iyad ag
Ghali, um dos comandantes mais destacados de uma rebelião tuaregue nos anos
1990s, que se proclamou em luta para implantar a lei da Xaria nas conturbadas
regiões do norte do Mali. Iyad é salafista, já se aproxima dos 90 anos, e foi,
toda a vida, militante tuaregue rebelde; Iyad declarou recentemente que seus
homens atualmente não lutam para a libertação do estado imaginário de Azawad,
mas pelo estabelecimento da República Islâmica do Mali.
Contra
esse discurso pró-Xaria, o MNLA lançou um comunicado oficial, do porta-voz do
grupo, que vive em Paris, Mossa ag Attaher; nos termos desse comunicado, o
objetivo dos rebeldes é exclusivamente dividir o Mali e criar o estado
independente de Azawad; e garantiu que nenhum compromisso de caráter religioso
seria incluído na plataforma do movimento, que tem caráter secular. A agenda
religiosa do grupo Ancar Dine para o Mali tampouco se confunde com a
agenda da AQIM de Ayman al-Zawahiri, que tem base na Argélia.
Até
anteontem, 5ª-feira, talvez ainda fosse possível pintar a situação no Mali como
específica desse país, no máximo com algum respingo de refugiados para os
estados vizinhos. Mas ontem, soldados do Mali egressos da Líbia, que sofreram
nos ataques da OTAN e nas prisões do CNT em Trípoli, levantaram-se contra o
governo local, no acampamento militar de Kati, a apenas 20 km da capital do Mali,
Bamako.
A
tensão naquele acampamento escapou de qualquer controle, depois de uma visita do
ministro da Defesa, Sadio Gassama, planejada para discutir com os soldados
rebelados a questão de o exército não contar com armamento apropriado para
enfrentar as armas líbias, muito mais pesadas, com que conta o MNLA. O carro do
ministro foi apedrejado por soldados amotinados, e o ministro teve de fugir do
local. Depois disso, os amotinados tomaram a rádio e a estação de televisão
estatais no centro de Bamako. Os relatos ainda são conflitantes; para alguns
analistas, tudo não teria passado de motim concentrado num determinado
contingente militar; para outros, tratou-se de tentativa, que pode ter sido
bem-sucedida, de assumir o controle do palácio do governo.
Pelo
Twitter, em declaração dita oficial,
o presidente Toure declarou enfaticamente que não se tratou de tentativa de
golpe; mas a agência Reuters, citando
funcionário não identificado do Ministério da Defesa, confirmou que, sim, houve
tentativa de invadir o palácio e assumir o controle militar do país. Na 5ª-feira
pela manhã, o CNRDRE anunciou, pela rede estatal de televisão, que
assumira o controle do país; e que o presidente teria sido deposto. Até o
momento de redigir essa matéria, o presidente Toure continuava a repetir que
permanecia em local seguro, e no comando do país.
Seja
como for, ainda que se confirmem as notícias de que o CNRDRE assumiu o
controle da capital do Mali, nada significará em relação a regiões do norte,
leste e noroeste do país, que continuam controladas pelos rebeldes do
MNLA.
O
que é certo, em todos os casos, é que a “Primavera Árabe” já derrubou seu
primeiro líder africano. Mas, diferente dos clássicos “Grandes Homens”
africanos, quase sempre autocráticos, o presidente Toure foi democraticamente
eleito, estava nos últimos dias do mandato e tudo fazia crer que o Mali
conheceria uma transição pacífica de governo.
No
Mali, Toure é chamado “soldado da democracia”, em referência ao golpe que
comandou, em 1991, para transformar o Mali, de ditadura militar, em governo
razoavelmente representativo e democrático. Diferente do governante do Niger,
presidente Mamadou Tandja, que foi derrubado em fevereiro de 2010, ao tentar
emendar a constituição e criar para si um mandato prolongado, o presidente Toure
do Mali parecia estar fazendo bom trabalho, na preparação das eleições marcadas
para começar dia 29 de abril.
O
Mali enfrentará problemas cada dia mais graves – dentre os quais, os legiões de
emigrados que não param de voltar da Líbia, de onde trazem armamento pesado; e
um exército local desorganizado, de soldados amotinados e com a moral muito
baixa, depois de algumas derrotas estratégicas, como a perda da base e do
aeroporto militar da cidade de Tessalit, no norte.
Agora,
depois da captura do chefe da inteligência de Gaddafi, Abdullah Senussi, na
Mauritânia, quando desembarcava de um voo que chegava de Casablanca, Marrocos,
portando passaporte falsificado do Mali, já não há como não ver que a ‘mudança
de regime’ na Líbia começa a reverberar por toda a África, com efeitos, no
mínimo, sobre o futuro próximo.
Depois
dos eventos tectônicos da 4ª e 5ª-feiras na capital do Mali, já não cabem
dúvidas de que os efitos da campanha da Líbia, apoiada e comandada pelo
ocidente, já começam a estender-se, do Norte da África, para a região que, bem
claramente, é o oeste do continente africano.
____________
Notas dos
tradutores
[1] Sobre o Mali, ver: “Malí, de la pobreza al golpe de
estado”
[2] 23/3/2012. - No Brasil, onde os
jornais e “correspondentes” só fazem repetir noticiário requentado das agências
ocidentais, o que se lê no “Portal Terra”, é mais do mesmo: Sarkozy, Obama, Hillary Clinton, União
Europeia, ONU e demais suspeitos-de-sempre condenaram vigorosamente o atentado à
democracia no Mali em: “Golpe no Mali: ao menos 4 morrem; presidente está na
capital”.
(comentário de internauta QUE SABE DAS COISAS e enviado por e-mail pelo pessoal da Vila Vudu e postado por Castor)
ResponderExcluirMali significa “muçulmano”
23 de março de 2012 22:58 (por e-mail) – Mali significa “muçulmanos”. Foi de lá que partiram os haussás que se levantaram contra o regime escravista, logo, governo de brancos, na Bahia de 1835.
Na Bahia, foram atrozmente reprimidos pelo Regente, Padre Diogo Antonio Feijó. A violência da repressão deixou sequelas no Brasil ao longo de todo o século 19 e início do 20:
– passou a ser proibido no Brasil a circulação de publicações em alfabeto árabe, ainda que em línguas não-árabes; e
– passou a ser proibido enunciar frases e palavras naquelas línguas e praticar ritos islâmicos e suas rezas.
Os malis rebeldes, não escravos, queriam instituir um regime islâmico no Brasil.
Pensando bem, o Brasil Império foi o primeiro país a reprimir a religião de Maomé, de maneira mais brutal que a dos gringos!
Pudera! A Rebelião dos Malês foi a maior jamais ocorrida nas Américas, com intenções de derrubar as instituições e criar um Brasil Islâmico.
(No Haiti, a Rebelião Haitiana foi marcadamente independentista e jamais pretendeu estabelecer uma Jamahirya na Ilha de São Domingos. Toussaint Louverture era católico e permitia o vudu no país que criara).