terça-feira, 13 de março de 2012

Meir Dagan chegou ao horário nobre, na televisão nos EUA


Apesar de “Bibi”, há muito Israel contra Israel atacar o Irã

12/3/2012, Brian M Downing, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido na Vila Vudu: O que esse artigo nos sugeriu -- como pauta q aqui oferecemos à discussão geral -- é o seguinte:

De fato, o que está hoje MUITO RUIM, em todo o mundo -- e muito MAIS RUIM, até, que as esquerdas -- é, de fato, A DIREITA!
Nunca antes, nos últimos 50-70 anos, a direita esteve PIOR! Há 50 anos, POR EXEMPLO, na direita dos EUA havia Kissinger. Era ruim, mas... Panneta é MUITO PIOR! No Brasil, há 50 anos, a direita tinha Franco Montoro. Era ruim, mas... Alckmin é MUITO PIOR! Havia no Brasil a UDN. Da UDN, por exemplo, conheci um deputado paraibano, Osmar de Aquino, pai de uma amiga minha, que era MUITO udenista... e, simultaneamente, era grande amigo, amigo íntimo, pessoal, do Velho Prestes, que confiava cegamente no Dr. Osmar e que, aliás, conheci na cada do Dr. Osmar, aqui em SP. Era oooooooutra coisa! Hoje, na UDN, há do ex-FHC ao ex-senador Virgílio; há Cesar Maia; há o senador Aloysio; há Cerra; há Alckmin, Kassab, Marina Silva...

SANTO DEUS! Tudo isso é INFINITAMENTE PIOR que a direita daqueles anos! D. Danuza hoje tem coluna de jornalista!

Nunca antes na história desse país alguma Danuza teve coluna de jornalista! Quando, algum dia, o jornalismo paulista foi pior que ISSO?!

Há  em todos esses movimentos um importante e claro avanço DAS ESQUERDAS, que as esquerdas não estão conseguindo ver, por absoluta falta de formação política leninista, por excesso de cultura “ético-moralista” metida a inteligentíssima (que sempre foi, no Brasil, marca registrada das elites brancas e ricas e uspeano-letradas); por excesso de sociologias & economias neoliberais fanadas; por excesso de partidarismo tribalista eco-ético-moralista petista; e, também, por absoluta falta de vivência e de visão políticas, desses carinhas que não sabem o que seja a luta política REAL, sob as terríveis condições que os pobres sempre enfrentaram em todas as lutas políticas nesse Brasil da “ideologia de segunda mão”. 

Mas achamos, mesmo-mesmo, que nossas “elites” brancas e ricas e uspeano-letradas são o horror que são hoje, mais que tudo, por excesso de contato-confiança-conluio com o jornalismo brasileiro -- que é o pior do mundo; que não ajuda a esclarecer ninguém ; e que, provavelmente, é responsável hoje, sobretudo, pela péssima qualidade, também, da direita DELES [risos, risos, risos].

\o/ \o/ \o/ \o/ Essa é a melhor ideia que nos ocorreu, em muitos anos!

O Gato Filósofo foi às lágrimas. Depois, semirrecomposto, pôs-se a enunciar frases desconexas: “Bom... a luta é longa, mas...” - “É nóis na fita!” – “Te cuida, UDN!” – “Se Bibi tá enquadrado na CBS... no domingo à noite, na televisão, nos EUA, em ano eleitoral, então... 

NO PASARÁN! NO PASARÁN! NO PASSARÁN!”
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Brian M. Downing
Washington vive horas de suspense, ante novos desdobramentos no caso do programa nuclear iraniano e correspondentes gritos de guerra. Primeiro, foi o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu que chegou à cidade para, em reuniões com o presidente Barack Obama e com grupos norte-americanos pró-Israel, insistir em sua tese de ‘guerra já’. 

Dificilmente terá voltado muito satisfeito para casa. Obama deixou-o falar, mas ao final, insistiu em mais diplomacia. O assunto poderia ter ficado nesse pé mais diplomático, se o debate não continuasse inflado na imprensa e na campanha eleitoral presidencial. Netanyahu mobiliza todos os seus seguidores para forçar os EUA a atacarem o Irã ou, não sendo isso possível, para que, no mínimo, apóiem algum ataque israelense. E isso, diz ele, tem de ser feito imediatamente, antes que o Irã esconda em sítios subterrâneos, nas montanhas, as suas instalações para enriquecimento de urânio – que assim ficariam invulneráveis a qualquer ataque.

Netanyahu tampouco deve estar muito contente por o ex-chefe do Mossad (“equivalente israelense da CIA”, como se ouve na entrevista, adiante) Meir Dagan andar também falando muito à imprensa nos EUA – e dizendo coisas mais próximas da posição de Obama, que da posição de ‘Bibi’. Dagan é analista escolado da geopolítica da região. Não há dúvidas de que será ouvido atentamente.

Rápidos minutinhos com um chefe do Mossad

No domingo, Meir Dagan foi entrevistado no programa 60 Minutes programa muito popular nos EUA. A entrevista pode ser vista-ouvida a seguir:


... para manifestar-se, embora obliquamente, em direção diferente do que as direitas andam dizendo nos EUA e em Israel. A matéria veio cheia de fotos e subtemas, para fixar as altas credenciais militares e de segurança do entrevistado e as muitas vezes que seu nome apareceu associado a assassinatos no Oriente Médio. Não faltaram trechos de outra entrevista, do ano passado, em que Dagan disse que Israel atacar o Irã é “a ideia mais estúpida que jamais ouvi”.

O ex-diretor do Mossad reconheceu [para sincera ou fingida, e nos dois casos ridícula surpresa, com ares de indignação, da jornalista que o entrevistava] que, com algumas fracas restrições, a liderança iraniana é “racional”.

Dagan não apareceu naquele programa para pregar sermões de filosofia cartesiana ou ensinar teoria dos jogos. Ele lá esteve para separar-se ativamente de israelenses e norte-americanos que dizem – e talvez creiam sinceramente no que dizem – que o Irã seria governado por clérigos ensandecidos que esperam ansiosamente pelo fim do mundo e que nada e ninguém conseguiria impedir de fabricar e usar bombas atômicas. Para Dagan, o Oriente Médio pode chegar a uma situação de mútua contenção. Foi exatamente o que EUA e União Soviética construíram e preservaram ao longo de muitas décadas, até o colapso do regime comunista soviético.

Dagan acompanhou durante décadas as relações com o Irã. Sabe que Israel tiveram laços profundos com o Irã do Xá e também com o Irã dos mulás, depois que chegaram ao poder em 1979, e que Israel ajudou na longa guerra contra o Iraque (1980-88). A quebra das relações não é consequência de ideologia ou das políticas de Teerã; é efeito de uma mudança política em Jerusalém: depois de verem o Irã destruir o exército de Saddam na 1ª Guerra do Golfo, os israelenses passaram a ver o Irã como potência árabe sem qualquer opositor local à altura e, por isso, como força que poderia ameaçar Israel. E assim, rapidamente, Israel converteu o Irã em seu principal inimigo regional.

O ex-chefe do Mossad não descarta alguma eventual necessidade de atacar o Irã, mas entende que o Irã está ainda distante (“talvez três anos”) de ter armas nucleares. Dagan parece preferir a situação em que os EUA demarquem uma “linha vermelha” no atual momento da produção de armas, que impeça que o Irã passe ao estágio seguinte nas instalações de enriquecimento de urânio; isso, além do mais, daria ao Irã uma saída honrosa para desistir de qualquer ataque. Por hora, em todos os casos, Dagan prefere que se mantenham as atuais sanções e as tentativas diplomáticas com vistas a estimular uma “mudança de regime” no Irã.

É difícil subestimar a extraordinária importância da entrevista de Dagan no domingo à noite, nos EUA. Foi como se, no início de 2003, (a) um respeitado ex-diretor da CIA ou general e comandante militar norte-americano tivesse ido à televisão para falar a grandes audiências contra o país invadir o Iraque; e (b) tivesse encontrado grande rede comercial de televisão que lhe desse espaço e voz.

É possível que Dagan tenha considerado tudo isso. Recentemente, disse que uma guerra contra o Irã geraria ataques devastadores de retaliação contra cidades israelenses e guerra regional cujos “desafios de segurança tornar-se-iam insuportáveis.”

O Likud e Israel

O público norte-americano foi adestrado para receber declarações sobre a segurança nacional de Israel, feitas por ministros israelenses ou grupos influentes nos EUA, como o AIPAC, como se fossem declarações “técnicas” ou informação “isenta”, e, sobretudo, como se fossem informações estabelecidas que não se poderiam questionar. As palavras de Dagan enfraquecerão bastante essas crenças tão difundidas na opinião pública; e os discursos de Netanyahu, que não se cansa de exigir guerra, também passarão a ser vistos sob outra perspectiva.

Avaliações sobre segurança nacional são estimativas, aproximações e, não raras vezes, incluem alguma dose de puro palpite; baseiam-se tanto em evidências reunidas em campo como em crenças já existentes. Essa área escura numa imagem de satélite será um processador de fertilizante, ou um silo de míssil nuclear? As interpretações variam como variem as personalidades e as instituições.

O pensamento dos israelenses foi, é claro, modelado pelo Holocausto, que tem paralelos óbvios, embora superestimados, com as preocupações de hoje. O Likud de Netanyahu e outros partidos conservadores em sua coalizão também foram modelados pelo efeito da miraculosa vitória de Israel contra os grandes exércitos árabes de na Guerra dos Seis Dias, de 1967.

Com certeza, muitos terão pensado, foi sinal da divina providência que guia as ações de Israel – conceito paroquial que se encontra ativo em outros países e em outras religiões. O fundamentalismo religioso somou-se ali às razões de estado – dois campos dogmáticos, cada qual a seu modo –, o que reduziu o espaço de influência de políticos mais influenciados pela moralidade talmúdica e por raciocínio mais nuançado.

A posição extremamente dura e conservadora de Netanyahu não corresponde a qualquer consenso da opinião pública israelense. Pesquisa recente constatou que só 19% dos israelenses são favoráveis a um ataque unilateral de Israel contra o Irã. Considerada a atual posição de Obama, Netanyahu, se insistir em exigir guerra total contra o Irã, estará claramente falando sozinho.

Nem, deve-se observar no debate sobre o Irã, seu partido e seus parceiros de coalizão tem a exibir currículo muito recomendável de sucessos em política externa. Nos 35 anos, desde que Menachem Begin formou o primeiro governo do Likud, o partido já várias vezes errou e fracassou gravemente.

Os ataques de Israel contra o Líbano e militantes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) levaram ao surgimento de uma forte oposição xiita e ao crescimento do Hezbollah. Esforços de Israel para enfraquecer o Fatah fortaleceram o Hamás. Respostas desproporcionais a ataques palestinos enfraqueceram muito o poder de Hosni Mubarak no Egito, tão importante para Israel. A insistência em instalar colônias em territórios palestinos que Israel ocupa na Cisjordânia gerou indignação e animosidade contra Israel em todo o mundo, e fez crescer o apoio universal ao boicote contra Israel. É provável que a decisão de romper com o Irã em meados dos aos 90s (invenção conjunta dos partidos Labor e Likud) tenha tido papel considerável na geração da atual crise.

Tambores de guerra e o público, nos EUA

As declarações de Dagan na televisão dos EUA vêm em momento auspicioso. Em muitos espaços, serão calorosamente acolhidas e repetidas, como até hoje se repetem suas palavras, de 2011, sobre a estupidez de um ataque ao Irã. Desde a 2ª Guerra Mundial, o público norte-americano foi rápido ao apoiar muitas ações militares; mas, hoje, as questões centrais são a economia e a dívida. Porque aprenderam da dura experiência recente, os norte-americanos não creem mais em cenários televisivos que exibam ataques “cirúrgicos” e consequências subavaliadas.

O Irã tornou-se questão partidária: políticos, jornalistas e jornais conservadores não param de fazer soar tambores de guerra – e de clamar por, precisamente, mais ataques cirúrgicos e mais consequências subavaliadas. Obama já expôs o que pensa sobre mais diplomacia e sanções; e as pesquisas o favorecem. Pesquisa de fevereiro sobre a questão iraniana mostrou que 60% dos entrevistados preferem diplomacia & sanções: 20% preferem nenhuma ação contra o Irã; e 17% preferem ação militar.

A posição de Obama será fortalecida também por aspectos aparentemente sem correlação, como alguma melhoria nas condições econômicas e a muito evidente falta de atrativos nos candidatos conservadores, cujos discursos e clamores patéticos a favor de guerra e sangue não têm qualquer eco fora das fileiras mais conservadoras dos conservadores. Insistir em pressionar a favor de mais guerra, de hoje até as eleições de novembro, só fará chamar cada vez mais atenção para o caráter partidarizado e pouco exequível da agenda de Netanyahu – seja nos EUA seja em Israel.

Meier Dagan parece que saiu do frio e, em conjunção com uma rede comercial de televisão norte-americana, pôde falar diretamente aos eleitores dos EUA, num debate em torno de uma guerra que ameaça todos. Suas palavras reverberarão pelos think tanks e gabinetes da segurança; chegarão provavelmente até o AIPAC. Resta esperar que as palavras de Dagan tenham mais credibilidade que as de “Bibi”.

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