sábado, 31 de março de 2012

Recomeça o tango EUA-Paquistão


31/3/2012, MK Bhadrakumar, Indian Punchline Blog
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Obama
A roda do destino da parceria entre EUA e Paquistão começou a girar. O presidente Barack Obama aplicou-lhe boa dose de lubrificante, em reunião com o primeiro-ministro do Paquistão Yusuf Gilani, que aconteceu na 4ª-feira, às margens da Cúpula sobre Segurança Nuclear em Seul. Dia seguinte, James Mattis, chefe do Comando Central dos EUA, e John Allen, comandante das forças de coalizão no Afeganistão, chegaram ao quartel-general paquistanês em Rawalpindi.

O Paquistão ouviu alto e claro que os EUA querem desesperadamente a reabertura das rotas de passagem para suprimentos para a OTAN. E o Paquistão está inclinado a ceder. As estradas podem ser reabertas afinal, depois de permanecerem fechadas por cerca de quatro meses. O que os EUA cederam em troca ao Paquistão permanece secreto, mas deve ter sido algo valioso.

A velocidade com que todos chegaram a um consenso na reunião presidida por Gilani ontem, 6ª-feira, é impressionante – especialmente a mudança de posição da Liga Muçulmana Paquistanesa liderada pelo ex-primeiro ministro Nawaz Sharif.

Realmente interessante é a facilidade com que algumas mãos ocultas conseguem calibrar o “antiamerianismo” no Paquistão. Até o grupo Jamiat Ulema-e-Islam liderado pelo “pai dos Talibã” Fazlur Rehman entrou rapidamente na linha. Quase se poderia concluir que, afinal, a liderança civil estaria começando a assumir a condução da política exterior. Nada disso. São os militares, estúpido!

Paquistão - Fronteira fechada para os EUA-OTAN
Mas, diz o bardo, nem o mais verdadeiro amor navega sempre em mar sem procelas. Os ataques dos aviões-robôs norte-americanos, os drones, prosseguem no Paquistão, e é preciso encontrar um modus vivendi. O Paquistão pressiona pelo fim dos ataques dos drones. Os líderes civis exigem o fim daqueles ataques. Obama concordará? É possível que sim, porque ajudaria a seduzir a opinião pública paquistanesa e os militares em Rawalpindi ficariam mais à vontade para ajudar na rápida evacuação do armamento de guerra norte-americano que precisa sair sem mais delongas, do Afeganistão.

Quer dizer então, que o “reengajamento” EUA-Paquistão recomeçou. Para abril, já estão previstas uma chusma de visitas de altos funcionários dos EUA a Islamabad, antes do encontro de cúpula da OTAN, um mês depois, em maio, em Chicago. Mas, de fato, ainda não se sabe a que levará tudo isso. Não será fácil restaurar o relacionamento EUA-Paquistão. Os EUA continuam de dedos cruzados.

Talibã
Washington finalmente aceitou a exigência dos Talibã, de que, quando os seus líderes que continuam presos em Guantánamo forem transferidos para o Qatar, sejam deixados absolutamente livres, sem as limitações de “prisão domiciliar”. É concessão que os EUA fazem, para atrair os Talibã de volta às conversações de paz. Mas a trilha da reconciliação continua a correr paralela aos resultados do diálogo EUA-Paquistão. O Paquistão tem todos os meios necessários para, no momento em que decidir fazê-lo, pôr fim à festa dos encontros entre EUA e Talibã.

Verdade é que um quarto protagonista assiste a tudo, mas ainda não se manifestou sobre os acertos da semana passada entre EUA e Paquistão – o presidente afegão Hamid Karzai. É criticamente importante, para o sucesso daqueles acertos, que Karzai não se sinta posto à margem dos acontecimentos. Mas os Talibã recusam-se a conversar com Karzai. E, na 5ª-feira, o grupo Hizb-e-Islami comandado por Gulbuddin Hekmatyar também “suspendeu” suas conversações com Karzai; Hekmatyar declarou que “nenhum de vocês [Washington e Kabul] tem qualquer proposta aceitável e exequível” que leve a algum acordo.

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu,Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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