20/3/2012, Socialist Worker, UK
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
Dias
23 e 24 de maio, os egípcios votarão, nas primeiras eleições presidenciais desde
que a Revolução derrubou o ditador Hosni Mubarak, ano
passado.
Os
Socialistas Revolucionários estiveram no coração do movimento para aprofundar a
revolução e remover os restos do regime Mubarak. Aqui, o manifesto que lançaram
essa semana, sobre sua posição para as próximas eleições.
Praça Tahrir - Militares tentam travar a Primavera Egípcia |
Nas
primeiras eleições presidenciais depois da derrubada de Mubarak, os socialistas
apoiamos a revolução e os objetivos da revolução
Não
é possível analisar as próximas eleições presidenciais fora do quadro das
tentativas desesperadas que o Conselho Militar sempre fez para abortar a
Revolução.
O
trabalho de abortar a Revolução começou com o referendum sobre emendas à
Constituição. Depois, vieram as eleições parlamentares, nas quais se elegeu uma
maioria de forças políticas que formarão governo para ignorar os objetivos da
Revolução – embora devam a própria vitória eleitoral aos
revolucionários.
A
prioridade, para aquela maioria, é extinguir as leis de divórcio, legalizar
castigos corporais como punição para crimes contra a propriedade e proibir
greves. Aquela maioria não cogita de dar pão, liberdade e justiça social aos
mais pobres.
Os
esforços para abortar a revolução culminarão no apoio que aquela maioria
parlamentar dará a um candidato presidencial (seja por meios consensuados, seja
mediante golpes conspiracionais) que assegure fuga segura aos membros do
Conselho Militar cujas mãos estão sujas do sangue dos mártires; que garanta
absolvição legal aos criminosos corruptos hoje presos na prisão de Tora; que
reafirme as vantagens de que sempre gozaram norte-americanos e sionistas; e que
proteja empresários e investidores, sempre acossados pelas justas greves dos
trabalhadores egípcios.
Os
muitos obstáculos a serem enfrentados pelos candidatos (reunir 30 mil
assinaturas em 15 governadoratos); a formação de uma comissão do próprio Comando
Militar, para supervisionar as eleições (o que implica que suas decisões não
poderão ser contestadas, nos termos do artigo 28 da Constituição); e a atuação
incansável da poderosa máquina contrarrevolucionária da mídia e do aparato
governamental e administrativo mobilizada para defender os militares, tudo isso
mostra que o regime Mubarak busca apenas renovar-se, e que passa agora da
defesa, ao ataque.
Os
socialistas revolucionários entendem que nenhuma mudança genuína poderá ser
feita por nenhum presidente; e que só será feita pelo próprio movimento popular
revolucionário – que afinal rompeu irreversivelmente a barreira do medo, e que
conquistará seus direitos na onda revolucionária que prossegue nas muitas greves
que se veem por todo o país.
Por
mais que nossa posição sempre seja “estar onde o povo está”, não há como não ver
que a maioria dos egípcios veem as próximas eleições – cujo resultado ninguém
consegue prever – como experiência democrática, para eleger o primeiro civil à
presidência do Egito e para livrar o país da ditadura dos militares. Mesmo nesse
quadro, os socialistas revolucionários insistimos em não esquecer os mártires da
revolução, cujo sangue ainda não foi vingado.
Nesses
termos, entendemos que nosso dever é não abandonar as massas; não nos por
arrogantemente acima do que pensa e sente o povo. E que temos o dever de abraçar
a luta política para expor aos eleitores os candidatos que representam a aliança
entre os militares e a Fraternidade Muçulmana.
Assim
faremos, para empurrar adiante o povo egípcio, até que complete a sua revolução
e, afinal, se concentre na defesa das demandas da revolução e das forças
revolucionárias egípcias, dentre as quais se destacam as
seguintes:
–
Dar julgamento justo em tribunal revolucionário aos responsáveis pelos mortos e
feridos nos eventos revolucionários, de janeiro de 2011 até
hoje;
–
Recuperar as riquezas roubadas do povo, renacionalizar as empresas privatizadas
e confiscar o patrimônio pessoal de todos os corruptos ativos no governo
Mubarak;
–
Redistribuir a riqueza nacional em benefício dos mais pobres e incluir os
“fundos especiais” (atualmente geridos e fiscalizados por militares) no
orçamento geral do país;
–
Promover redução dos preços de itens indispensáveis à sobrevivência e
nacionalizar os monopólios que continuam a pertencer à gangue
capitalista-militar;
–
Implementar salário e pensão mínimos de no mínimo 1.200 libras egípcias
mensais e um salário máximo que em nenhum caso poderá ser mais de 20 vezes
superior ao salário mínimo;
–
Garantir direitos sociais e segurança no trabalho aos trabalhadores sob contrato
temporário de trabalho;
–
Promover reestruturação geral das empresas estatais de comunicação pública e
demais instituições do estado militar – a começar pelo Ministério do Interior –
e demitir todos os protegidos do regime Mubarak.
Nesse
momento, ainda não declaramos apoio a nenhum candidato. Continuaremos a
trabalhar em coordenação com todas as forças revolucionárias para definir um
único “candidato da revolução”, que disputará votos com o candidato da
conspiração militar. Trabalharemos também para construir um programa
revolucionário de governo, sem nos envolver na personalização das campanhas
eleitorais como estão sendo conduzidas hoje.
As
próximas eleições serão mais uma das nossas batalhas, ao longo do caminho para
completar a revolução egípcia; não são nem fim em si mesmas, nem marcarão o fim
da revolução.
Unimo-nos
à oposição contra o candidato dos militares. Dedicar-nos-emos expor o plano dos
militares para abortar a revolução egípcia e tratemos à discussão social as
exigências da revolução.
Essa
batalha é tão importante quanto a batalha pela Constituição, que terá de
garantir liberdade e direitos para os mais pobres. E é tão importante quanto as
batalhas pelos direitos dos trabalhadores, funcionários públicos e estudantes e
pelas demais reivindicações populares, em nome das quais o povo egípcio
levantou-se.
Nenhuma
dessas lutas se encerrará no próximo dia 30 de junho, quando tomar posse o
primeiro governo eleito no Egito. De fato, essas lutas só aumentarão e ganharão
intensidade revolucionária.
Glória
aos mártires. Todo o poder ao povo. Até a vitória!
Revolucionários
Socialistas
Egito,
20 de março de 2012
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