22/3/2012, Peter Geoghegan, London Review of Books, vol.
34, n.6, Blog
"Access All Areas"
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
"Access All Areas"
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Peter Geoghegan |
Em janeiro, a empresa
Transport for London, do Metrô de Londres, requereu à polícia que
emitisse uma "Ordem de Restrição de Comportamento Antissocial" contra quatro
jovens do sexo masculino cujas identidades não foram divulgadas. Nos termos
daquela Ordem, os quatro estão proibidos de falar/escrever entre eles por dez
anos; de carregar equipamento que possa ser usado para explorações noturnas; e
de publicar em blogs sobre "exploração urbana".
O crime dos quatro? Na madrugada
da 2ª-feira depois da Páscoa do ano passado, quando a segurança era máxima em
torno de Londres e dentro da cidade, por causa do casamento do príncipe, aqueles
quatro entraram na estação Russell Square do metrô, e caminharam pelos
trilhos desertos e por dentro dos túneis fechados da estação Aldwych,
abandonada.
Os quatro são militantes da
organização London Consolidation
Crew (LCC), a mais ativa (e conhecida) equipe de exploração urbana
da capital britânica. Para muitos, o grupo pratica o que se conhece como
"hacking do espaço" ou "hacking de territórios". Entre 2008 e
2011, o pessoal da LCC escalou, invadiu ou vangloriou-se de ter-se "apropriado"
de espaços como a Heron
Tower , a Strata
Tower, de prédios de
New Court
(Rothschilds Bank) , Eagle House
, Temple
Court e de prédios de 100 Middlesex Street
e do complexo
Shard .
Pessoas infiltram-se em locais
onde não se deve entrar desde tempos imemoriais, mas o hacking urbano – com
ênfase em locais proibidos, provas fotográficas e comentários em rede, pela
internet, sobre os territórios hackeados – é fenômeno mais recente. O termo
parece ter sido cunhado pelo falecido Jeff Chapman, mais conhecido
pelo apelido Ninjalicious.
No livro Access All Areas:
A User’s Guide to the Art of Urban Exploration (2005) [Chegue a todos os
lugares: guia do praticante da arte da exploração urbana], Chapman definiu a
exploração urbana, ou o hacking urbano, como "infiltrar-se ou invadir
áreas ou espaços restritos ou de acesso proibido, inclusive esgotos,
encanamentos, torres, igrejas, respiradouros de subterrâneos, túneis em desuso,
prisões, áreas militares, asilos, hospitais, minas, teatros, fábricas e estações
de trem".
Bradley Garrett, membro do LCC,
que concluiu recentemente uma tese de doutoramento sobre hacking
urbano ("Place Hacking:
Tales of Urban Exploration" [Hacking de espaços: contos de
exploração urbana] foi defendida dia 28/1/2012; ), estima que haja cerca de
3.000 hackers espaciais urbanos no Reino Unido. "Para algumas pessoas, trata-se
de ter contato direto com a história e com ruínas", diz ele. "Para outros, é o
desejo de estar em espaços onde não se pode(ria) estar". Os hackers urbanos
típicos trabalham em pequenos grupos fortemente coesos; e tem ativa presença
online. Garrett atribui o crescente interesse pelo "hacking de espaços"
ao crescimento da tecnologia de vigilância e ao estreitamento do espaço
público.
Mas até os espaços acessíveis
quase que exclusivamente aos hackers espaciais parecem estar também se
estreitando. Estudo sobre pontos "frágeis" do sistema de Metrô da cidade de
Londres concluiu que é necessário gastar £240 mil [R$ 694.464,00] para reforçar
os portões de aço e instalar novas portas contra-fogo em 16 estações do metrô,
entre as quais Tower Hill, Mansion House e Warren Street.
Simultaneamente, uma "atualização
de medidas antiterrorismo/ extremismo para a comunidade comercial da cidade de
Londres" distribuída pela Polícia da Cidade de Londres no final do ano
passado, alertava contra hackers urbanos, os quais, como manifestantes
dos movimentos Occupy e gangues urbanas, poderiam estar
"conduzindo operações hostis de reconhecimento".
Depois de alertar também contra o
risco de uma greve de eletricitários, o memorando concluía: "Todos devem tomar
as necessárias providências para que seus equipamentos de segurança sejam
adequados, robustos e operantes em todas as horas do dia e da noite. Informem
imediatamente à autoridade policial qualquer atividade suspeita."
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