Por Rede Uninômade
Lembrado
pelo pessoal da Vila Vudu
Nota da
redecastorphoto
Este
MANIFESTO UNINÔMADE GLOBAL foi distribuído pela redecastorphoto em 26/9/2011 -
20:53h, a pedido do Max Carlos - UNINÔMADE.
O pessoal da
Vila Vudu fez um “flash back” sobre o que temos postado atualmente e nos solicitou nova distribuição do MANIFESTO.
Aproveitamos esta oportunidade para, também, criticar o péssimo serviço prestado pela atual
titular do Ministério da Cultura e a desvalorização a que submete TUDO o que foi realizado e conquistado após duras batalhas durante o Governo Lula.
Esperamos
que esta postagem sirva para lembrar a Presidenta Dilma que a atual gestão da
Cultura sequer serve minimamente ao nosso país e reflete um pensamento
retrógrado, vingativo e desestruturante em TUDO o que se progrediu na gestão Lula/Gil/Juca em termos de Cultura. Os maiores fracassos (retrocessos) do Governo Lula/Dilma são justamente na Cultura, Comunicações e Comunicação Social.
A
redecastorphoto não tem “rabo preso” com ninguém, muito menos com quaisquer
governos, mas tem LADO.
Esta nota
reflete unicamente o nosso LIVRE pensamento, o qual, agora, compartilhamos com
nossos correspondentes e leitores deste bloguinho.
Vivemos em
uma situação revolucionária.
A crise se torna permanente, a governança imperial está falida, o eixo atlântico
apresenta a corda. Afirmá-lo não representa nenhuma concessão a um pretenso
mecanicismo ou a qualquer tipo de determinismo ingênuo. São as próprias lutas a
demonstrar que a multidão produtiva não quer mais viver como no passado, assim
como os padrões do capitalismo global também não podem mais existir como no
passado. Por isso o velho mundo está ruindo. Nas ruas do Egito, da Tunísia, da
Espanha, de Londres, de Jirau e do Rio de Janeiro, de Santiago do Chile, nas
praças e redes globais, a revolução qualifica a conjuntura e
abre possibilidades extraordinárias na crise do capitalismo global iniciada
entre 2007 e 2008 com a quebra dos contratos subprime e que hoje se aprofunda
com a crise da dívida soberana na União Europeia.
Dessa maneira, a revolução volta à ordem do dia,
embora de forma diferente: não há mais “palácio de inverno” a conquistar,
centros nervosos do poder a serem apropriados. Por isso falamos em revolução 2.0: ela se articula
através de diferentes tipos de redes – digitais e territoriais – e irrompe nas
ruas e praças das metrópoles. Em um mundo no qual produzir se torna um ato
comum, a “revolução
2.0” é o
contexto no qual este ato se reafirma, e atualiza a potência de generalização do
desejo comum.
A crise é
sistêmica e permanente. A
recorrência de bolhas através das quais a riqueza se acumula e estoura indica
uma nova temporalidade da crise: não se trata mais de ciclos internos à (ir)
racionalidade da economia capitalista, mas de uma temporalidade constituída
pelos “mundos” que tais bolhas contêm. A temporalidade da crise é definida a
cada momento pelas peculiaridades e pelos paradoxos que atravessam estes
“mundos”, pelo conflito entre produção livre e horizontal do comum, de um lado,
e sua captura parasitária, do outro. Em um viés negativo, as bolhas representam
a forma que a acumulação capitalista usa para dividir e hierarquizar o comum. No
positivo, são definidas e requalificadas pela difusão das
lutas.
Governança e
comum. Na crise, e diante
dela, direita e esquerda se misturam, pensando-a como uma espécie de desvio da
norma, por um lado, e usando-a como ocasião para aplicar unanimemente políticas
ditas de exceção, por outro. Durante a primeira fase da crise, ambas despejaram
bilhões de dólares para socializar as perdas; agora desmantelam os últimos
restos de welfare a fim de forçar a
multidão de pobres e trabalhadores a arcar com o custo. O “estado de exceção”
das economias centrais se une às políticas emergenciais dos países emergentes,
de modo a submeter a sociedade aos interesses “superiores” do desenvolvimento.
Mas, o “estado de exceção” é também aquele decretado pela multidão, em
Londres.
Acenar com a ideia de exceção,
portanto, não quer dizer afundar no catastrofismo, que nada mais é que um
convite à inação política, ou mesmo reclamar a soberania estatal como freio à
própria exceção. Quando a exceção se torna permanente, ela se torna normativa: e
a governança se torna esta norma particular e não soft power, expertise e técnica de gestão que se
distinguiria do governo fundado na violência. Digamo-lo então claramente: o
modelo de governo soberano não acabou porque teria se tornado melhor, mas
simplesmente porque as lutas o puseram em crise. A governança é um sistema de
intervenção situado na base lá onde não é mais possível governar de cima para
baixo. No entanto, essas intervenções alternam continuamente flexibilidade e
violência (exatamente como se organizam/preparam as Olimpíadas de Londres e do
Rio), com o fim de controlar e gerir aquilo que continuamente o excede: o comum.
A governança é, portanto, continuamente alimentada por sua própria crise: é
exatamente neste espaço, determinado pelas lutas, que se abre de modo permanente
a possibilidade da ruptura e da subversão.
O trabalho da
diferença devém multidão. A
revolução
2.0 é animada por uma
composição do trabalho vivo de tipo novo, composta de pobres precarizados e
precários empobrecidos. Trata-se de um trabalho altamente fragmentado, no qual
se combinam velhas e novas formas de precariedade, reunindo na mesma condição
produtiva os migrantes, os pobres daquelas áreas ditas “subdesenvolvidas” (de
Tunísia, Egito ou Brasil) e o proletariado cognitivo e imaterial das metrópoles
“centrais” e “emergentes”. Nas lutas, nas redes e nas praças, a esta vida de
precariedade se contrapõe a potência do fazer multidão, isto é, a metamorfose
dos fragmentos em singularidades que cooperam entre si a partir das próprias
diferenças e as reinventam continuamente: mulheres, migrantes, homens,
indígenas, negros, mestiços, jovens, gays, lésbicas,
transexuais.
As forças
produtivas contêm as relações de produção. Atualmente se inverte a tradicional relação entre
forças produtivas e relações de produção: podemos dizer que são as próprias
forças produtivas que contêm as relações de produção, enquanto o capital
variável (isto é, o trabalho vivo que coopera / o trabalho colaborativo em rede)
incorpora o capital fixo – as metrópoles e as suas praças, a cultura e a
natureza. O comum indica exatamente esta dimensão relacional das forças
produtivas enquanto produção de formas de vida (e de saberes) por meio de formas
de vida (e de saberes). Os pobres se tornam potências produtivas sem passarem
pelas relações salariais; os trabalhadores passam a ser plenamente produtivos
por si mesmos, nas redes e nas praças.
Da relação
salarial àquela de débito-crédito. Se no capitalismo industrial as variáveis centrais
eram o salário e o lucro, no capitalismo cognitivo estas se tornam a renda e o
rendimento. Neste regime de acumulação o trabalho se torna relacional,
“polinizador”, imerso em redes de autovalorização. A acumulação ocorre a posteriori, como captura – financeira
– dos fluxos: o mecanismo fundamental da captura consiste em continuar a pagar
exclusivamente os fragmentos de trabalho que se apresentam sob a forma
tradicional do emprego (das abelhas operárias). Assim, a perda do salário direto
e indireto é “compensada”, paradoxalmente, pelo crescente recurso ao
endividamento. Lucro e salário se transformam então em rendimento e renda. O
tornar-se rendimento do lucro, através da financeirização, lança luz sobre a
dimensão parasitária do capital que, para sugar o valor, acaba por matar as
abelhas polinizadoras do trabalho relacional. Diante deste parasita, a fim de
que o trabalho da multidão reproduza suas condições comuns, o salário deve
estender-se pelo tempo de vida total; devir-renda, ou seja, uma bio-renda que
reconheça a dimensão produtiva do trabalho relacional: “polinizador”. O direito
a decretar falência e dar calote por parte de precários e pobres, isto é, a
recusa em pagar à dívida a bancos, firmas financeiras e Estados, é uma das
práticas através das quais a multidão se reapropria da renda social e o trabalho
passa por um devir-renda.
Da dialética
do público-privado ao comum.
Finalmente passou o tempo em que o socialismo podia correr em socorro de um
capitalismo em agonia. E os anos de crise mostraram que qualquer receita keynesiana ou neokeynesiana que vise relançar o ciclo
econômico através do governo público faliu. Os processos de financeirização do
welfare não podem ser afrontados e
derrotados no terreno público exatamente porque esta é a articulação que permite
que esses processos funcionem. Por outro lado, os sujeitos da revolta inglesa ou
das periferias francesas cada vez mais só experimentam, do welfare público, a função de controle,
privados que são dos benefícios materiais e das promessas de progresso do
capitalismo. Ocorre, então, o exaurimento definitivo da percepção da escola e da
universidade como
mecanismos de ascensão social – percepção hegemônica dos movimentos de precários
e estudantes na Europa, assim como nas revoltas na Tunísia e no Norte da África,
aproximando e tornando comum uma classe média empobrecida e um proletariado cuja
pobreza é diretamente proporcional à produtividade: pobres precarizados e
precários empobrecidos.
O desafio se coloca agora,
imediatamente, no plano da reapropriação da riqueza social e, logo, de sua
constituição em riqueza comum; isto é, no plano da construção de instituições do
comum, entendidas como criação de normatividade coletiva imanente à cooperação
social. Não “ilhas felizes” ou espaços de utopia no interior (ou apesar) da
acumulação capitalista, mas organização da autonomia coletiva e destruição dos
aparatos de captura capitalista.
Em suma, não resta mais nada a
defender. Transformar as mobilizações em torno do público em organização do
comum: eis o caminho que indicam as acampadas espanholas e os movimentos
globais. Podemos encontrar traços importantes também neste laboratório
extraordinário e produtivamente ambivalente em que se constituíram o Brasil e a
América Latina da década passada, na relação aberta e tensa entre movimentos e
governança: como a rede, a cultura, os saberes, a universidade, os lugares de
habitação e os espaços metropolitanos podem ser imaginados não como afirmação
daquilo que não pertence a ninguém, mas como instrumento de autovalorização e
autonomia da potência cooperativa do trabalho vivo? Como afirmação, portanto,
daquilo que é produzido por todos e que pertence a todos, ou seja, da
institucionalidade do comum? Aqui se travam as batalhas.
Nem
brasilianização, nem europeização: Sul, Sol, Sal! Como evocado pela poesia do modernismo comunista
brasileiro, a revolução 2.0 vem do Sul (da Tunísia, do
Egito), consolida-se no Sol das acampadas espanholas, para então retornar ao Sul
que se localiza no interior do norte e reverbera nos fogos da revolta na
Inglaterra. Em Londres, hoje, como em Paris ontem, encontramos as periferias
pós- e neocoloniais, fenômeno a que os sociólogos do risco chamam de
“brasilianização do mundo”: o colonizado continua a ser o mau exemplo aos olhos
do colonizador. Mas, visto desde o Sul, a “brasilianização do Brasil” revela um
duplo paradoxo: uma vez que atualmente é no Sul que se encontram as jazidas do
crescimento global, a tal “brasilianização” é na realidade uma “europeização”.
Estas jazidas, porém, não devem repetir a experiência de expropriação e
homologação coloniais. Para além da brasilianização e da europeização, é na
multidão de pobres – das favelas do Rio de Janeiro e das periferias de Londres –
que encontramos o “Sal”: a metamorfose do próprio significado do
desenvolvimento.
Os espaços
constituintes do comum. A
revolução
2.0 é
irrepresentável, afirmam os movimentos. A potência constituinte da multidão não
deve se tornar forma de governo, porque ela já exprime imediatamente as formas
de vida em comum. A ocupação dos espaços metropolitanos, na condição de espaços
centrais da produção, não é um simples exercício extemporâneo de protesto, mas
construção de laboratórios de criação de formas de vida em comum, de
reapropriação de poderes e logo de nova constituição. Mas, como é que esta
potência constituinte pode conseguir esvaziar e romper a máquina de captura? Eis
o ponto. De uma coisa estamos seguros: é no plano transnacional que o processo
constituinte é jogado. Não há devir para as lutas nas angústias e nos limites
esvaziados dos Estados-Nações. Isto vem sendo dito das acampadas espanholas até
a Tunísia. E é por este motivo que – como indica a construção de uma grande
jornada de mobilização transnacional no próximo dia 15 de outubro – os espaços
globais só podem viver através de um processo constituinte que se encarna nos
movimentos do comum e nas experimentações políticas da multidão. Por isso
também, quaisquer tentativas de engenharia jurídica ou econômica, ou de
reprodução em escala continental da crise irreversível da soberania estará morta
ao nascer.
Quando nos anos recentes começamos
a falar de multidão, de pobres e de comum, de trabalho cognitivo e biopolítica,
talvez ainda não compreendêssemos com precisão a potência do que estávamos
dizendo: pois as lutas, hoje, explicam e aprofundam esses termos. Estes são
conceitos entendidos como ferramentas políticas. E será nesta tendência que
continuaremos a dar nossa contribuição para transformar a situação
revolucionária em revolução, revolução 2.0: é o único caminho plausível e
possível para sair da crise para além da impotência e da melancolia das
esquerdas e contra a guerra aos pobres criada pelas
direitas.
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