sábado, 3 de março de 2012

Editorial da Vila Vudu: Questões abissais sobre “informação”


O que é? Quanto vale? Pra que serve? Quem lê tanta notícia? [1] E as táticas?


Ainda não sabemos exatamente que conclusões extrair desse fato, mas fato é que:

(a) os caros (no sentido de que custam muito dinheiro) analistas da empresa Stratfor;
(b) os clientes que compram a informação (também muito caro) que essa empresa vende; e
(c) o pessoal aqui do bairro – além de muita gente por aí pelo mundo – esses últimos lendo deliciosamente gratuitamente e em português.

Lemos, nós todos, (a), (b) e (c) acima, exatamente a mesma “informação”, que todos consideramos importantíssima, e no mesmo dia.

Esse espantoso fato (achamos espantoso, pelo menos assim, avaliado no momento do espanto, porque parece que obriga a pensar sobre o que seja a tal “informação” que tantos tanto prezam, pela qual tantos cobram tão caro, e que a gente aqui distribui fartamente e de grátis) ficou comprovado hoje, quando WikiLeaks divulgou o e-mail ID 758143, datado de 8/11/2011 
Nesse telegrama Sean Noonan, da empresa Stratfor, reencaminha mensagem que recebera, e recomenda a leitura de artigo publicado na revista Wired, assinado por Quinn Norton, intitulado “Anonymous 101: Introdução ao ‘Lulz’”, que traduzimos.

Sean Noonan, da empresa Stratfor, escreve, no e-mail:

“Dez pontos a quem inventou a expressão “ultra-coordinated motherfuckery” (que nós traduzimos por “sarro ultracoordenado”, porque as soluções alternativas “filha-da-putagem ultracoordenada” e “ferro-ultracoordenado-na-boneca” foram derrotadas por votos, e “sarro ultracoordenado” venceu).

Infelizmente, a expressão se aplica ali a gente completamente não coordenada que jamais ferrará ninguém. Mas aguardem, que vou achar melhor uso para a expressão.

Na mensagem inicial, Marc Lanthermann escrevera:

... comentário cultural bastante bom sobre os Anon, mas inútil em termos de expor detalhes “táticos”.

OK. É a opinião deles. O que se vê, tão claro em tão poucas linhas, é que Noonan avisa que há de achar uso em que ferrará, sim senhor, algum incauto. E Lanthermann só se interessa por “informação” que exponha “detalhes táticos” dos Anons (ou, talvez, de qualquer coisa, não se pode saber).

Sobre a empresa Stratfor, há “informação” em “Stratfor: por dentro de uma CIA privada”, de jornal libanês, traduzida.

Sobre os e-mails da empresa Stratford, que WikiLeaks começou a publicar essa semana, há “informação” de WikiLeaks, traduzida, em WIKILEAKS-2012: “Stratfor: Os Arquivos da Inteligência/ Espionagem Privada Global.

Absolutamente não obramos aqui pra nos exibir oo por autopromoção, porque não vemos vantagem alguma em constatar que a gente aqui distribui “informação” que pressupomos interessante para nós... e aquela “CIA privada” acha que a mesma “informação” também é interessante para ela e seus clientes (mas a “CIA privada” anota, cautelosamente, que a informação é inútil se não expõe “detalhes táticos”). 

Alguma coisa estranha, para a qual não estamos dando atenção – e para a qual talvez devêssemos estar dando atenção – há, nesse negócio aí, de recolher e distribuir “informação”. Estamos terrivelmente intrigados. Estamos convencidos que alguma coisa há aí, sim. Pra começar: a coisa talvez esteja na evidência de que uns vendem informação, e a gente dá. 

Os Anonymous também fazem deliciosamente gratuitamente o que fazem (“Nossa esquisitice é grátis” (ou, talvez, “Nossa esquisitice é livre”, questão indecidível), como se lê em A lógica dos Anonymous – exército online, agente do caos, em busca de justiça, 13/1/2012, Gabriella (Biella) Coleman, Triple Canopy, n. 15,  (em tradução). Parece que, sim, a grana (ou a não-grana) tem alguma coisa a ver com construir e distribuir “informação”. (E, seja como for, continua sem análise e discussão a questão dos “detalhes táticos”, de que a “CIA privada” já sabe, mas nós, ainda não.)

Estamos nesse pé da reflexão. Todas as contribuições, ressalvas, correções são bem-vindas.


Nota de rodapé
[1] “Quem lê tanta notícia?” é verso de Alegria, alegria, Caetano Veloso, 1967, que se vê e ouve em...


... do tempo em que Caetano Veloso cantava sem arrogância udenista e desafinava um tantinho. Tinha algo (não muito, mas algo, um traço, uma coisinha) a ver com “lulz”, né-não? \o/ \o/ \o/?
Infinitamente mais bonito que o que se ouve a seguir:


Caetano já igualzinho ao ex-FHC e atual NADA, hoje super afinadíssimo-chato. 1967 é também o ano de “Domingo no parque”, do grande, grande imenso nosso ministro Gilberto Gil, que parece que via o momento em que a festa vira tragédia (vê-se ouve-se a seguir) , como tudo virou tragédia, logo no ano seguinte, em 1968.


Mas... 1967?! Já lá vão 45 anos! Faltavam ainda 13 (epa!) anos, para o PT aparecer no mundo!

Clicando no “link” podemos ver foto do Presidente Lula em 1967. Nesse mesmo ano (1967), a presidenta Dilma militava no POLOP e a ditadura brasileira inventou a Lei do Mobral, pra alfabetizar e emburrecer simultânea e rapidamente o maior número possível de pessoas. 

A revista Veja estava sendo montada; foi lançada no ano seguinte, feito do qual Mino Carta se orgulhou no início, depois se arrependeu. 

Em 1967, Bruno Giorgi criou a escultura Meteoro, que lá está hoje, sobre o espelho d’água do Palácio das Relações Exteriores, em Brasília. 

Em 1967, o PCdoB publicou um documento intitulado “Alguns problemas ideológicos”, contra o foquismo e contra a ideia de substituir o papel dirigente do partido, pela guerrilha. 

Naquele ano, Aloysio Nunes Ferreira Filho assumiu a presidência do Centro Acadêmico XI de agosto, da Faculdade de Direito, e trabalhava como motorista de Carlos Marighella, então, para Aloysio um ídolo, embora guerrilheiro. Atualmente já ninguém sabe o que é o senador (hoje) tucano-udenista Aloysio. 

Em 1967 foi ao ar, pela primeira vez, o “Jornal da Globo”, que, em 1969, passou a chamar-se “Jornal Nacional” e prestar, jamais prestou. 

Ora, tudo são “informações”. O xis da questão, afinal, talvez esteja, mesmo, em aprimorar os “detalhes táticos”...

2 comentários:

  1. Castor,
    essa história de "informação" é deveras interessante. O que é relevante e quem lê... Veja a histórinha abaixo:
    METEOROLOGIA INDÍGENA
    Aproxima-se o inverno.
    Os notáveis da tribo vão ao cacique se esclarecer:
    - Grande Chefe, o inverno este ano será rigoroso ou ameno?

    O chefe, nascido e criado em tempos modernos, não aprendera como seus ancestrais os milenares segredos da meteorologia. Entretanto, não podia e nem queria demonstrar insegurança.

    Olhou para o céu por algum tempo, elevou e estendeu as mãos, sentiu o rumo dos ventos e, em tom sereno, profético e firme anunciou:

    - Teremos um inverno muito forte! É bom catar muita lenha!

    Na semana seguinte, preocupado com o chute, telefonou para o Serviço Nacional de Meteorologia e ouviu a resposta:

    - Sim. O inverno deste ano será muito frio!

    Sentiu-se, então, mais aliviado e seguro.

    Novamente aconselhou todo seu povo:

    - O melhor que se faz é catar muita lenha... O inverno será rigoroso!

    Dois dias depois, ligou novamente para o Serviço Nacional de Meteorologia e não deu outra:

    - Sim... As evidências apontam este ano como de inverno muito rigoroso!

    Dirigiu-se novamente a seu povo:
    - Teremos um inverno muito rigoroso. Catem todo pedaço de lenha que encontrarem, temos que aproveitar até os gravetos.

    Na semana seguinte, ainda um pouquinho inseguro, ligou para a meteorologia outra vez:

    - Vocês tem certeza que teremos um inverno tão rigoroso assim, como estão afirmando há dias?

    - Sem a menor dúvida, responde o meteorologista de plantão. Este ano teremos um frio muito, mas muito intenso mesmo, fora das médias tradicionais.

    - E o que leva o homem branco a ter tamanha certeza?

    - Meu amigo... Este ano os índios estão catando lenha pra caramba!

    COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO:
    Não parece a fábula da inflação no Brasil? Os oráculos da economia vaticinam: vai ter a volta da inflação! A mídia repercute, faz escândalos... Os magos voltam a enfatizar, vem aí uma inflação "das bravas".
    Os empresários sobem os preços preventivamente, e a mídia informa: viu só? O Banco Central corrige pra cima os juros da Selic. Nós falamos que ia ter...
    Me lembra também a crise de 2008, "os homi" falando que ia ter crise, a mídia repercutindo, e o Lula avisando: vai ser só uma marolinha...
    E não foi?
    Richard Jakubaszko

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    Respostas
    1. Tem razão, Richard...
      Os "analistas econômicos" brasilóides não acertaram nenhuma, nem antes, nem durante, nem depois do Governo Lula/Dilma. Não vão acertar NUNCA, pois são extrema e pomposamente ignorantes. A qualidade da informação vendida como tal ao pobre pagante/consumidor é pura enganação. Os "compradores de jornais/revitas" devíamos nos queixar ao PROCON/IDEC por recebermos LIXO impresso em bom papel isento de impostos ao invés de INFORMAÇÃO.
      Aliás, este seu exemplo/estorinha é uma ótima demonstração de como funciona a imprensa-empresa, não só brasilóide, mas ocidentóide em geral...
      Abraço
      Castor

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